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Manuel Omil: “Desejo umha mocidade que faga a sua vida em galego”

Manuel Omil é pontevedrês e quando ia a Portugal, em criança, ficava estranhado de ser tão fácil escrita e difícil a fala. Aceitou o desafio de falar 21 dias em galego quando esta não era, ainda, a sua língua. Estuda engenharia matemática e mora em Madrid. A sua descoberta do reintegracionismo tem a ver com as parabólicas mas não da forma que estamos a pensar. Ia estudar A1 galego para conseguir 6 créditos mas afinal escolheu português. Com outre sócie, Nee Barros, criou o podcast Conversas Perversas.

Manuel Omil nasceu em Ponte Vedra. Como foi a tua infância linguística?

Como nom surpreenderá ninguém, mui marcada pola diglossia. Lembro familiares falarem entre si galego e comigo espanhol. Na escola aprendim a ler em castelhano. Aprendi da existência de vogais abertas e fechadas no final da primária ou começos da secundária.

Tivem contacto com a língua por meio dos livros, da (escassa) televisom, da escola, de eventos para crianças e, um bocado vergonhosamente menor, na rua.

Contodo, tenho memórias positivas. Lembro de minha mae (madrilena e castelhano-falante monolingue) ler-me livros dos bochechas. Esforçava-se muito, mas desfrutava comigo. Lembro também de ir a Portugal e ler em português e ficar mui entusiasmado de perceber quase todo. Nom acreditava como era que escreviam de um jeito tam compreensível e falavam tam estranho.

Lembro também de ir a Portugal e ler em português e ficar mui entusiasmado de perceber quase todo. Nom acreditava como era que escreviam de um jeito tam compreensível e falavam tam estranho.

Em que momento decides rasgar o guiom o tornar-te galego-falante?
 
Nom podo assinalar um momento concreto. Foi um processo nom linear, prolongado no tempo e que se calhar ainda nom concluiu.

Seria mui longo de contar, mais destacaria fazer teatro em galego como o germe, falar galego 21 dias como desafio no bacharelado como tomada de contacto e, finalmente, namorar em galego e conviver com gente galego-falante (paradoxalmente em Madrid) como desencadeante.
 
Manuel Omil é estudante de engenharia matemática em Madrid. Como se vive a galeguidade em Madrid?
 
No referente à minha situaçom pessoal vive-se com muita naturalidade. Moro com gente galega, o que se torna mui libertador. Falamos da nossa realidade linguística e identitária frequentemente.

Por outra parte, a realidade galega é percebida. pola gente que vive aqui, de jeito variado. Há quem conhece algo e quem nada, mas, geralmente, há interesse e, na minha experiência, menos preconceitos dos que na própria Galiza.
 
Como o foi o processo de descoberta da estratégia reintegracionista para o galego?

Se a gente a ler-me o permitir, vou fazer umha analogia disparatada. Para mim e um bocado como as antenas parabólicas, desde criança vemo-las na rua, nalgum momento aprendes o que som, e se tens sorte e interesse pode que aprendas porque som desse jeito e como funcionam.

Já falando dos porquês particulares, eu tomei aulas de Português A1 como formaçom complementar do meu curso há pouco. A razom pola qual escolhi apanhar português é bem engraçada. Originalmente pensava apanhar Galego A1 que seriam 6 créditos que levaria ao expediente sem esforço nengum. Porém, ao fazer a matricula apanhei medo de ter problemas por cursar umha língua em que era nativo. Anotei-me entom a português A1 sabendo que seria a disciplina que menos esforço precisaria. No final, a preguiça é a força que move o mundo.

Tivem umha professora nativa do Porto que nos iniciou na língua e cultura portuguesa. Nessas aulas conheci também alunado brasileiro que, aparentemente, também era amigo de escolher o caminho fácil.

Foi naquela altura que decorreu o II Fórum Internacional da Língua Portuguesa, na minha faculdade mesmo. A nossa professora fijo-nos assistir a umha conferência do Incanha Intumbo, diretor executivo do IILP. Ele falou da realidade sociolinguística da Guiné-Bissau. Depois daquele evento reparei que se calhar a Galiza nom tem umha situaçom tam particular como pensava. Verdadeiramente abriu-me a mente.
Ê minhe amigue Nee (que conhecera fazendo teatro em galego) publicara em 2020 19 poemas para um VÍRUS-19 foi assim que a ortografia reintegrada para o galego entrou na minha vida e, a partir disso, já comecei a informar-me, para mais tarde empregá-la.
 
Com Nee criaste o podcast Conversas Perversas onde, entre outros temas,  tendes falado da vossa experiência com a língua, com o conceito de neofalante, com a lusofonia…
 

Sim, acho que para quando seja publicado isto já estará publicada a primeira temporada integramente. É um podcast de humor e conversa com temática variada. Estamos em todas as plataformas de podcast baixo o nome Conversas Perversas.

No episódio 03 | Em sonhos falo galego falamos da nossa experiência linguística, e no 07 | Galego nativo procura lusofalante para conversa por aplicativo quanto antes comentamos como é que nos integramos na lusofonia. Contamos com participaçom de falantes estrangeiros, nativos e nom nativos. Foi umha experiência mui positiva.
No resto dos episódios temos conteúdo mais ligeiro. Fazemos piadas, jogos e retos e costumamos incluir referências à lusofonia neles. A próxima temporada chegará no verao e contará com a participaçom de várias pessoas, algumha que com certeza ides conhecer.
 
 
Em termos de estratégia, por onde julgas que deveria transitar o reintegracionismo para avançar socialmente? Quais seriam as áreas mais importantes?
 
Desconheço o panorama académico e político. No referido ao digital, que me é mais próximo, tenho de dizer que vejo um avanço positivo. O vídeo recentemente publicado do Eduardo Maragoto no canal Portuguese With Leo, por exemplo foi um movimento bem estratégico na minha opiniom. Apresenta o galego  para lusófonos, nomeadamente portugueses, dum jeito compreensível e mui completo, ressaltando a proximidade linguística num espaço chave.

A divulgaçom desenfadada em meios populares penso que pode ser um objetivo chave.

A JUPLP, em que me integrei mui recentemente, parece um espaço que pode ser bem positivo para os princípios reintegracionistas e a língua em geral.
 
Porque te tornaste sócio da Agal e que esperas do trabalho da associaçom?
 
Sigo de perto os projetos da associaçom e pensei que estaria bem ter umha vista mais privilegiada e contribuir um bocadinho. Nom tenho muitas expetativas, presumo que será interessante bem como formador fazer parte.
 
Em 2021 somamos 40 anos de oficialidade do galego. Como valorarias esse processo? Que foi o melhor e que foi o pior?
 
Bom, apenas vivim metade desse tempo e muito do que vivim nom lembro. Se tivesse que assinalar unha cousa positiva é que hoje as pessoas escrevem em galego, seja com a ortografia que for. Quero dizer, pessoas novas e nom tam novas estám a comunicar-se em galego por escrito em bate-papos, notas em placares… O galego escrito está a ser empregado com certa quotidianidade, nom apenas por elites ou académicos, e tenho entendido que isso nom era tam habitual antes da oficialidade. Meu avô, marcadamente galego-falante, anotava as cousas em castelhano, se a memoria nom me falha.
O pior, penso que é umha opiniom unânime, é o continuismo da diglossia e a perda de falantes. A rutura da transmissom intergeracional é algo profundamente triste, mesmo a nível pessoal.
 
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2050?
 
Vou escusar de falar de recuperaçom de falantes e espaços para a língua e desejar umha mocidade que faga a sua vida em galego. Polo menos que tenha referentes atrativos como puido ser o Xabarín Club.

Que exista e se consuma conteúdo de atualidade na nossa língua, já seja localizada a Galiza ou nom.

Conhecendo Manuel Omil

 Um sítio web: podgalego.agora.gal  Há gente mui jeitosa por lá. Para todos os gostos e idades.
 
Um invento: a cor coral. Há corais de todas as cores, é como dizer cor borboleta!
 
Umha música: Lei e ordem, ou qualquer outra cousa de projecto mourente.
 
Um livro: Identidade. A normalidade do non común. Lembro-me de ê Nee andar a voltas a reescrevê-lo.
 
Um facto histórico
: Houvo duas guerras do bacalhau e Portugal nom fijo parte de nengumha.
 
Um prato na mesa: Churrasco grego. Para mais detalhes o episódio 11 | Eu gosto de mamar dos queijos da francesinha.

Um desporto: O lipe. Jogava-o meu avô, meu pai e eu jogo menos do que deveria.
 
Um filme: As superdrags. É um seriado mas mereciam umha longa-metragem.
 
Umha maravilha: A landra, o melhor dos fruitos secos.
 
Além de galego/a: Pastafari

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