‘Alicerçar’, ‘berrar’, ‘faiscar’, ‘orvalhar’, ‘peneirar’, ‘teimar’. Existem numerosos verbos exclusivos de Galego e Português. Até este momento identifiquei 195.
Na história do idioma, os escritores portugueses recorreram a materiais léxicos castelhanos com ‘naturalidade’, como se de lídimo português se tratasse e com a cândida adesão do leitor português, habitualmente ignorante da língua vizinha.
Em inícios de 1995, percebi que algo de estranho se passava com o português de José Saramago.: castelhanizava-se, mas não de maneira desordenada.
Aquilo que hoje chamamos português é um produto linguístico bem mais antigo, do que o Reino de Portugal. Ele nasceu e desenvolveu-se num vasto território do noroeste peninsular, a Galécia Magna, abarcando só uma pequena parte do futuro reino português. Para todo o resto era um idioma geográfica e historicamente estrangeiro. Que nome tinha ele, então? Chamavam-lhe linguagem, que significava simplesmente ‘não latim’. Mas, se a língua de Afonso Henriques algum nome pudesse ter tido, era só este: galego.