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Ângelo Brea: «A ficção científica tem muitos elementos de que qualquer pessoa pode gostar, não apenas as viagens pelo espaço ou a visita a mundos desconhecidos»

Ângelo Brea
Ângelo Brea

Ângelo Brea (Santiago de Compostela, 1968) realizou estudos de Filologia Hispânica na Universidade de Santiago de Compostela e de Filologia Galego-Portuguesa na Universidade da Corunha. Foi secretário das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal e coordenou vários congressos internacionais sobre literaturas lusófonos e língua portuguesa. Na atualidade é membro da Academia Galega e professor titular de Língua e Literatura Galega no IES Terra de Soneira (Vimianço).

Como escritor, é autor do Livro do Caminho (1989) e está presente em várias antologias, como Mátria da Palavra e a Antologia da Poesia Lusófona. Publicou em 2005 O país dos nevoeiros, na editorial Espiral Maior. É autor da edição portuguesa de Cantares Galegos, de Rosalia de Castro; e de Queixumes dos Pinhos, de Eduardo Pondal.

Agora, com o carimbo da Através Editora, publica Lembranças da Terra & Outras histórias de um futuro possível, uma obra com a qual explora o terreno da ficção científica.

Ângelo, o que te levou a enveredar pela ficção científica?

O meu interesse pela ficção científica vem desde a adolescência. Naquela época lia muitíssimos romances de ficção científica, desde as novelas tipo pulp a obras de grandes romancistas, em especial os clássicos do género. Tudo o que me caía nas mãos. Obviamente, não era a minha única área de interesse, mas lembro-me daqueles romances e novelas com muito carinho, porque sem elas não teria enveredado por estes trilhos.

Lembranças da Terra & Outras nistórias de um futuro possível
Lembranças da Terra & Outras nistórias de um futuro possível

Além da ficção científica, dedicas-te a narrativas de outros géneros. Que trabalhos estão na gaveta “eletrónica” e em quais estas a trabalhar agora?

Em realidade, Lembranças da Terra e outras histórias de um futuro possível foi apenas uma escolha de todos esses textos que tenho na gaveta. Para dar algo de coerência ao volume, decidi recompilar apenas os relatos de ficção científica. Para outra ocasião ficarão os relatos pertencentes a outros géneros (o histórico, o terror, a intriga, etc…). Também tenho um par de romances rematados, que aguardo poder publicar nuns anos. O primeiro é um texto ambientado na história lendária da Galiza, num tempo de heróis e de deuses, que tem como protagonista Ith, filho de Breogão, da raça dos Gaedhail. O segundo é outro romance histórico, ambientado no Egito da IV Dinastia.

Outras histórias de um futuro possível…  Será que há histórias possíveis e outras impossíveis na ficção científica?

Há histórias que falam de um futuro bastante próximo e com muitas possibilidades de tornarem-se reais. Um exemplo seria o de Júlio Verne, que escrevia sobre aparelhos úteis que posteriormente se tornaram totalmente reais. Mas também há uma ficção científica diferente, que não pretende nada parecido. As duas visões são contrapostas, mas ambas necessárias. Mesmo há escritores que viajam entre uma e outra opção.

Para ser um bom escritor de ficção científica é necessário o conhecimento de ciências e tecnologia?  Ou seria suficiente o exercício da imaginação?

É a mesma diferença que existe entre a ficção científica dura e a ficção científica branda. Obviamente, apenas para o primeiro grupo é preciso ter um conhecimento importante de elementos científicos ou tecnológicos. A maior parte dos meus relatos estaria dentro dela, já que todos os dados científicos que se indicam são totalmente precisos e verificáveis. Se estiveres a escrever sobre a Lua ou Marte, deves ter em conta a gravidade existente, a pressão atmosférica, a temperatura, a rotação e os diversos parâmetros orbitais. Mas também se pode escrever ficção científica onde não haja que contar com esses dados científicos, apenas deixar voar a imaginação, ambientando os relatos num futuro mais ou menos afastado do mundo atual.

Há mais adeptos da ficção científica em formato livro ou em formato filme?

Acho que mais em formato filme, sobretudo agora que parece que a ficção científica voltou a pôr-se na moda, com multidão de filmes desse género. Em formato livro há muitos seguidores da fantasia heroica.

Ângelo Brea
Ângelo Brea

Qual é a saúde da ficção científica na Galiza? Existem ligações com outras países com quem compartilhamos a língua?

 Atualmente há pouca ficção científica na Galiza. Apenas dois ou três autores têm escrito algo digno de menção. As editoras galegas apenas publicam autores traduzidos e nenhuma delas tem uma coleção explicitamente de ficção científica, à exceção da editora Urco, que está a começar uma coleção e que leva publicado algum volume.

Quanto à relação com a Lusofonia, devemos ter em conta que na Galiza atual há duas visões contrapostas em relação à língua. A oficialidade política está de costas virada à língua portuguesa e isso contagiou-se à cultura “oficial”. Os prémios literários, por exemplo, obrigam a utilizar a ortografia do castelhano. As editoras e muitos escritores (incluindo os que escrevem para os estudantes dos Liceus) também aderiram a essa ideia e assumiram que devem dar as costas à Lusofonia. Acho que por esse lado, se não mudarem significativamente as coisas, pouco se pode aguardar.

Claro que também estamos os autores que nos consideramos parte da Lusofonia e que lutamos porque a literatura galega se insira nas literaturas lusófonas em pé de igualdade. Obviamente, para isso precisamos de bons autores, não apenas na ficção científica, mas em todos os géneros literários. Quando contemos com autores de êxito na nossa língua, o caminho será mais fácil para os que vêm detrás. O que devemos fazer é continuar com o nosso trabalho. Apenas dando exemplo às novas gerações (sem aguardar nada em troca) podemos ganhar credibilidade.

Como recomendarias este livro a uma pessoa que não tenha o hábito de ler ficção científica?

O livro consta de dezasseis contos, cada um deles com uma temática diferenciada. Há para todos os gostos. De facto, podem ser apreciados por diferentes paladares. Apesar de que o seu objetivo é entreter, também podem ensinar. Aliás, a ficção científica tem muitos elementos de que qualquer pessoa pode gostar, não apenas as viagens pelo espaço ou a visita a mundos desconhecidos. Como em qualquer obra literária, o importante é o prazer estético.

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