Os tambores de guerra volveram a soar com furor nas semanas passadas no conflito judeu-palestino, recrudescido por Israel supostamente a causa do terrível ataque de Hamas contra colonos judeus. Foi o golpe mais duro que tenham sofrido estes nos mais de quarenta anos de ocupação, porque até o de agora a dureza tinham-na padecido sempre os palestinos, numa proporção superior a dez por uma mortes. Agora está a ocorrer o mesmo: se vós nos matastes mil judeus, nós imos matar-vos dez mil dos vossos; no momento em que escrevo isto vão caminho dessa cifra, e pode que esteja superada quando veja a luz.
A violência de Israel contra os seus irmãos palestinos não conhece limites; baseada mais na vingança que numa suposta seguridade, como disse. O projeto semelha não ser outro que a aniquilação da povoação palestina, pois todos seriam –homens, mulheres e crianças- reais ou potenciais terroristas. Com isto estão a fomentar não só o anti-sionismo de grande parte da povoação mundial, incluídos muitos judeus, mas um perigoso antisemitismo de tão triste história. Ademais dos milhares de homens e mulheres de bem por todo o mundo que saímos de novo às ruas para berrar “Não ao genocídio palestino!”, “Não às mortes de inocentes!”, muitos judeus uniram-se para berrar ao governo e aos mandos do exército israelita: “Não no meu nome!”. Eles sabem que na xenreira anti-judia que se está a gerar, os maiores culpáveis são precisamente este judaísmo violento, mais que a ideologia antissemita que acabou no extermínio nazi.
Os militares estão blasfemamente alentados per alguns líderes religiosos que dizem que cumpre arrasar Gaza, invocando a leitura literal de textos bíblicos, porque “a Torah não permite ter piedade por nenhum inimigo, mesmo as crianças ou as mulheres”: “Ditoso o que tome as suas crianças e as esmague contra as pedras”, diz o Salmo 137,9, escrito pelos judeus contra a capital de Babilônia.
E eu lembrei o meu trabalho “Ser cristão é ser um pacifista: a guerra por razões religiosas é uma blasfêmia”, para o livro mais recente em que participei: ¡Abajo las armas!–coma o conhecido romance de 1889 da ativista alemã Premio Nobel da Paz Bertha von Suttner. O livro foi publicado a meados deste ano com o subtítulo ¿Donde está el pacifismo? 32 miradas incómodas, coordenado por Manuel Dios, com prólogo de Federico Mayor Zaragoza e a pluma de outros 30 colaboradores, galegos, espanhóis e internacionais, tão conhecidos como Pérez Esquivel o Boaventura de Sousa. Era a ampliação de Adeus às armas. Que foi do pacifismo?–coma o romance de Hemingway de 1926- publicado há agora um ano com algumas menos colaborações (20). Livros escritos no fragor da guerra de Ucrânia e que resultam dobremente atuais. Particularmente, Boaventura de Sousa fala no publicado em espanhol da desproporção brutal entre os atentados palestinos e a repressão israeli, mas a contradição em relação ao invadido entre a postura ocidental na guerra de Ucrânia e na de Oriente Médio.
Os títulos dos livros expressam algo evidente: se há guerras é porque há armas. Neste caso, as dos judeus, fornecidas pelas suas próprias fábricas e pelo poderoso complexo armamentistico dos EEUU; e as de Hamas, muitas delas também americanas conseguidas no mercado mundial, as fornecidas pelos seus aliados e as feitas por eles mesmos. A dinâmica belicista vimo-la na guerra de Ucrânia: “A resposta à ofensiva russa por parte da OTAN, baixo o férreo liderado dos EEUU –diz Manoel Barbeitos no seu texto- está consistindo em pôr em primeiro e quase único plano a ação militar”. Vitória ou derrota pela força das armas, é a linguagem da guerra, não a da paz, utilizada pela maior parte dos líderes políticos e a maioria dos meios de comunicação, mais beligerantes que pacifistas. No seu razoamento e na sua narrativa não há outra solução que a das armas.
Desta lógica do armamentismo fala Mayor Zaragoza ao começo do seu texto: “ ‘Se queres a paz, prepara a guerra’ foi o adágio perverso que, para beneficio dos produtores de armamento, utilizou desde a origem dos tempos o poder… até hoje”. A norueguesa Ingeborg Breines titula expressivamente o seu trabalho “¿Armas para construir a paz? ¡Que ingenuidade!”; e acrescentava: “A guerra está obsoleta… deveria estar no vertedoiro do lixo da história… mas a lógica belicista eclipsa-o tudo”. Porem, “em toda guerra tanto vencedores como vencidos estão derrotados”, volve a lembrar no livro Pérez Esquivel. As imagens aterradoras das crianças de Gaza dizem-no com toda a crueza.
[Este artigo foi publicado originariamente no nosdiario.gal]