小即是美 (Xiǎo jí shì měi)

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Diz-que na muralha chinesa há um epígrafe retranqueiro que reza: “O pequeno é formoso”.

Conheci durante um jantar em Luxemburgo um advogado francês especialista em direito internacional que está precisamente a dar aulas numa universidade chinesa para melhorar a sua competência na língua oficial daquele país. Como não poderia ser doutra maneira, saiu o tema da democracia e da liberdade de expressão e outros direitos civis. Ele disse “cumpre entendermos um país do tamanho da China nunca poderá ser gerido da mesma maneira que um do tamanho do Luxemburgo”.

Traduzido para o meu idioma político isto significa que um país do tamanho da China nunca poderá ser democrático. E quem diz a China, diz a Rússia, diz os Estados Unidos, etc. Já os romanos se precataram de que império e democracia são termos antitéticos e já Borges escrevera nos poslúdios da segunda guerra mundial que para os EUA alcançarem o lugar no mundo que estavam chamados a alcançar deveriam primeiro abandonar quaisquer “superstições democráticas”.

Isto conduz-nos à pergunta de qual é a massa crítica a partir da qual a democracia é impossível. Se calhar é uma pergunta estúpida, pois cumpre considerar outros fatores para além da demografia. Reformulando a questão em chave local poderíamos interpelar-nos: pode a Espanha virar um estado democrático? A teimuda história semelha responder que não. Até hoje, quando menos, nunca o foi e precisamente estamos hoje mergulhados num processo involutivo de fundo calado. Pareceria que a muito precária democracia que conquistáramos resulta-lhes excessiva àqueles que têm a tigela pela asa. Mas, permitam-nos insistir, poderia acaso ser doutro jeito?

Depois de ter morado em sete países (todos ocidentais), a minha experiência indica-me que que, grosso modo, quanto mais pequeno mais democrático. Governe quem governar. Quando menos no mundo ocidental. Um governo conservador em Luxemburgo, por exemplo, onde todos nos conhecemos, é muito mais sensível às necessidades das pessoas do que qualquer governo do PSOE na Espanha.

No caso da Catalunha é verdade que o governo de CiU está a aplicar desapiedadamente o rolo neoliberal. Não admira, é o seu. E também é a única maneira da Catalunha ser aceite de bom grau nesta UE que padecemos. Porém, numa Catalunha independente é muito provável uma coligação de governo (ERC-CUP-IC, por exemplo) que dê passos decididos cara à democracia participativa. Muito provável, quase segura.

Já na Espanha… bom, digamos que a ultima vez que se tentou já sabemos em que deu o tema… Nem bom vento, nem bom casamento.