Xurxo há tempo que é reintegracionista e mantém uma vinculação permanente com o ativismo político da comarca de Ferrol, Eume e Ortegal. Para além disto, é um dos fundadores do Coletivo Terra de Ponte d’Eume, um espaço de dinamização cultural que compartilha com a sociedade eumesa todo o tipo de atividades viradas para o mundo da cultura e do galego internacional.
De que maneira chegaste ao galego?
Sou neofalante, cheguei a mudar de língua por compromisso político mas com muita dificuldade. Lembro de ter feito a mudança em COU e depois já de uma maneira mais séria na universidade.
Como deste o passo ao reintegracionismo? Qual foi o antes e o depois?
Eu, como a maioria da gente que conheço e que milita comigo, somos reintegracionistas não praticantes desde sempre. Outra coisa é a estratégia a seguir e como actuar de facto, no dia a dia. É muito complicado passar ao reintegracionismo escrito quando não há educação regrada em reintegrado e a maioria da população não sabemos escrever corretamente nesta norma ortográfica.
Acho que apesar de não existir varinhas mágicas para a recuperação do galego, e apesar da melhor ferramenta para isto ser a consciência nacional, sim acho que pode ajudar a prestigiar a língua o facto de dizer aos galegos e galegas que a língua que internacionalmente se conhece como português e que falam por volta de 300 milhões de pessoas no mundo, nasceu no que hoje é a Galiza e que conhecendo umas mínimas normas escritas que nos unem ao nosso passado mais glorioso, estamos em condições de nos aproximar a essa língua comum e de nos comunicar internacionalmente. É uma potencialidade que o nacionalismo não pode nem deve desaproveitar.
Isto último vi-o muito claro quando por razões laborais tive de trabalhar em Portugal como engenheiro de uma empresa instaladora da Corunha. Lá apercebi-me de que estávamos a falar a mesma língua com diferentes sotaques e diferente norma ortográfica escrita.
Xurxo é militante e responsável pelo BNG na comarca de Ferrol, Eume e Ortegal. Como achas que está a situação da língua nesta zona e quais as reações ante a perda do galego?
A língua está como no resto do país. Trinta anos de autonomia em mãos da direita espanholista com políticas de aniquilação e extermínio fazem que a situação seja crítica, a barragem de proteção do galego em face da assimilação somos a gente e as organizações políticas, sindicais e culturais que temos consciência nacional e não queremos ser assimilados/as.
És um dos fundadores do Coletivo Terra Ponte d’Eume, um espaço para a divulgação de todo o tipo de atividades culturais. Como está a ser a experiência e como é percebida pela vizinhança de Ponte d’Eume?
Em primeiro lugar, quero felicitar as e os responsáveis atuais do coletivo pelo imenso labor que estão a desenvolver. O Coletivo Terra é hoje em dia a verdadeira concelharia de cultura em Ponte d’Eume já que o atual governo municipal do PP nesta vila carece de uma programação cultural merecedora de tal nome, e tudo isto de jeito autogerido e sem nemhuma ajuda da parte do concelho nem de outros organismos oficiais. A maioria da população eumesa mais consciente percebe-o com toda clareza. E para além disto, o Coletivo também utiliza por igual as normas ortográficas AGAL e RAG sem nenhum tipo de problema entre os sócios e sócias e a gente, em geral.
Tens duas crianças… Como consegues transmitir-lhes o galego? Achas que os materiais em português são uma boa ajuda?
Sim, tudo ajuda, mas é complicado com todo o entorno, mídias, etc… em castelhano. Estaria muito bem que o governo galego tivesse a intenção de levar a bom porto a Lei Paz-Andrade, mas falando com responsáveis dos liceus de Ponte d’Eume, acho que claramente nem o estado espanhol, nem a Junta do Sr. Feijoo têm a mais mínima intenção de avançar nem um milímetro nessa direção. O BNG de Ponte d’Eume está a elaborar uma moção reclamando que se ponham os meios necessários para que no ano próximo possam ser dadas aulas de galego-português nos liceus do concelho. Quero que as minhas filhas tenham mais aulas em galego através do português.
Que visão tinhas da AGAL antes de te associares e que esperas dela?
A visão era através dos companheiros que estão na AGAL e é positiva, em especial campanhas como a de O Mundial Fala Galego, que acho que foram um acerto.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?
Aguardo que estejamos totalmente integrados na Galeguia com plenos direitos, e que cresça a consciência nacional galega. Sem isto, o galego seguirá florescendo no mundo, mas não onde nasceu.
Conhecendo Xurxo
- Um sítio web: PGL
- Um invento: Os semicondutores.
- Uma música: Hoje quero sair só, de Lenine.
- Um livro: A metamorfose, de Franz Kafka.
- Um facto histórico: O martírio de Alexandre Bóveda.
- Um prato na mesa: Bacalhau à dona Inês.
- Um desporto: O futebol gaélico.
- Um filme: A Esmorga
- Uma maravilha: As fragas do Eume.
- Além de galego: Nada.