Partilhar

Uma rede de brinquedotecas para as férias (filme: ‘O balão vermelho’ e dous documentários)

Brinquedos Jogo popular do aroAs nossas crianças já estão desfrutando das suas férias, depois das atividades escolares dum longo ano letivo. Em julho e agosto, até o início das aulas a princípios do mês de setembro, é fundamental organizar para elas atividades lúdico-artísticas, para ensiná-las a utilizar de forma adequada o seu tempo de lazer, e para fomentar em todas elas interesses positivos. Que tão importantes vão ser depois na juventude e na idade adulta. Infelizmente, cada vez as instituições nos últimos tempos, por causa da crise económica, cortam neste campo, que é onde não deveriam cortar, dando-lhe a importância que merece e prioridade perante outras despesas em temas faraónicos e irrelevantes. Um exemplo temo-lo no programa “Ourense Lúdico” que durante vinte anos desenvolveu a ASPGP na província de Ourense, levando as atividades lúdicas e artísticas e os jogos tradicionais galegos a numerosas localidades do rural ourensano e aos bairros da cidade. Este programa, que punham como modelo nos congressos estatais e internacionais dedicados ao jogo na infância, era apoiado economicamente pela Deputação provincial ourensana. Mas, deixou de ser apoiado pouco depois da tomada de posse do atual presidente, que deita o dinheiro público em muitos temas que não têm a mínima repercussão.

BRINCADEIRAS e Jogos5Não podemos imaginar crianças sem jogar, sem brincar e sem os seus risos. O jogo na infância é a atividade educativa mais completa que existe. Depois de comer, não há outra atividade mais integral e importante nas idades pequenas. Quando as crianças jogam põem em exercício toda a sua personalidade: a sua inteligência, a sua memória, a sua imaginação, a sua criatividade, a sua capacidade de atenção, a sua psicomotricidade, o seu sistema nervoso, todos os seus sentidos e mesmo a sua sensibilidade e os seus sentimentos. Por meio do jogo as crianças conhecem o mundo e entram em contacto com o ambiente que os envolve, aprendem a criar e a amar a natureza e também se preparam para a vida adulta. Assimilam habilidades sociais e adquirem autoestima. A criança que não brinca é que está doente. Existe, por ventura, uma outra atividade tão completa e importante? A nossa sociedade, enganada em muitas cousas, e cada vez com menos valores humanos, deveria refletir sobre isto. Deveria apoiar mais o jogo na infância e estar consciente do seu grande valor. Sem perder de vista tampouco que a melhor educação que existe é a educação preventiva. As sociedades que progridem são aquelas que valorizam o jogo infantil, dedicando-lhe espaços e tempos. Depois está também o valor de espertar ocupações positivas de tempo de lazer. Tão importantes posteriormente na juventude, na idade adulta e na terceira idade.

Brinquedoteca
Brinquedoteca

Na casa, na escola, nos bairros, nos espaços verdes das cidades, nos parques, nas alamedas… tem que haver um lugar amplo para a dinamização dos jogos infantis. As instituições locais, provinciais e autonómicas deveriam ter isto que assertamos como prioritário. Infelizmente neste tema a Galiza é a comunidade espanhola que se encontra ainda na pré-história. Pregando no deserto, levamos solicitado desde há muitos anos um projeto sério tão necessário para a Nossa Terra, de criar uma rede de brinquedotecas. Pelo que se refere à infância, desgraçadamente, está quase totalmente esquecida. O tema das famosas “Gale-escolas”, e mais tarde “Galinha azul”, teria que passar ao seu lugar natural que é o âmbito educativo. Mas as brinquedotecas – também chamadas ludotecas – são competência da Junta e dos concelhos. Nas quais, por meio do jogo variado, dos jogos tradicionais, dos jogos dramáticos, dos obradoiros artísticos, se pode fomentar de melhor maneira a adquisição e o apreço pela nossa língua, hoje tão ameaçada de desaparição em território espanhol.

Galiza, de forma bem triste, é a única comunidade espanhola que não tem estabelecido uma rede de brinquedotecas ou ludotecas. Mesmo a Rioxa nos supera. Para já não falar da Catalunha, com a sua associação ludotecária “Atzar”, pioneira neste e noutros temas, as Canárias ou a Andaluzia. E também Portugal, onde na cidade do Porto existe uma dinâmica Associação de Ludotecas. Criar esta rede em bairros das nossas cidades, nas cabeceiras comarcais e nas vilas importantes, envolvendo outras instituições, não seria apenas muito bom para as nossas crianças, como também para dar trabalho aos nossos jovens diplomados em educação social, muitos deles bem preparados como ludotecários e ludotecárias.

Por meio de todo o tipo de jogos e de obradoiros artísticos variados, podemos criar interesses positivos nas nossas crianças e adolescentes. Tão necessárias para o seu futuro e o da Galiza. Para ilustrar este meu depoimento escolhi vários documentários e o filme O balão vermelho, realizado em 1956 pelo gaulês Albert Lamorisse.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • O BALÃO VERMELHO Filme Cartaz1Título original: Le ballon rouge (O balão vermelho).
  • Diretor: Albert Lamorisse (França, 1956, 38 min., cor).
  • Roteiro: Albert Lamorisse. Montagem: Pierre Guillette.
  • Fotografia: Edmond Séchan. Música: Maurice Le Roux.
  • Prémios: Óscar ao melhor roteiro original em 1956. Melhor filme estrangeiro em 1957 pelo Círculo de Críticos de Nova Iorque.
  • Atores: Pascal Lamorisse, Sabine Lamorisse, Georges Sellier, Paul Perey, René Marion, Michel Pezin e Vladimir Popov.
  • Argumento: Na Paris dos anos 50, Pascal (Pascal Lamorisse), um jovem menino francês, encontra um grande balão vermelho atado a um poste de luz e decide desamarrá-lo. Inicia-se uma forte ligação entre o garoto e o balão, que passeiam e brincam juntos pelas ruas da cidade. Eles fogem de um grupo de meninos da idade de Pascal que querem destruir o objeto.
  • Um conto mágico e maravilhoso sobre um garoto que encontra um balão vermelho preso a um poste de iluminação, numa rua de Paris. Ao ser libertado, o balão passa a seguir o menino por todos os lugares, como um amigo inseparável, causando a admiração de todas as pessoas da vizinhança e a inveja das outras crianças.
Documentário: Brincadeiras dos nossos avós.
  • Diretor: Flávio Alex Farias (Brasil, 2013, 32 min., cor).
  • Produtor: Soahd Arruda Rached Farias. Montagem: Vinicios Lima.
  • Som: Vanessa Soares e Ysmenia Valeska. Fotografia: Valéria Soares e Nilsinho Araujo.
  • Nota: Olhar entrando no Youtube.
  • Argumento: Através de uma pesquisa com pessoas mais idosas, educadores e alunos, conjuntamente com parcerias das escolas da cidade de Boa Vista (Paraíba, Brasil), foram resgatadas brincadeiras antigas, seja por brinquedos simples, cantigas de rodas, jogos coletivos e individuais, mas que despertaram, durante as gravações, saudosismo dos antigos e um possível resgate educacional para ser aplicado por educadores em outras escolas.      
Documentário: A importância da Brinquedoteca (Brasil, 5 min.).

OS NOSSOS JOGOS E BRINQUEDOS TRADICIONAIS:

Fotograma de 'O balão vermelho'
Fotograma de ‘O balão vermelho’

A cultura galega, enormemente rica, pelo seu ciclo anual das festas populares, pela sua arte popular, a sua etnografia, arqueologia e literatura, os seus costumes e a sua formosa língua, tem também um grande valor no que se refere aos seus jogos tradicionais. Aqueles jogos criados e construídos com grande originalidade pelos nossos antepassados para ocupar de forma positiva o seu tempo livre ou de lazer. Aproveitando especialmente o que em cada estação lhe oferecia a natureza. Jogos como o da bilharda, que ainda hoje em Goa e na Bengala indiana é o mais típico jogo com os nomes, respetivamente, de goindabal e danguli, e que é o jogo galego por antonomásia. O que recebe outros nomes, segundo as comarcas, como por exemplo estornela.

Os jogos da roda, as andas [os sancos], a turra-soga, as argolas, a rã, a chave, que em Ourense se jogou pela primeira vez em Velhe e que lembra a chave dos paços, com a qual se jogava escondida entre a palha, atirando-lhe os pesos de prata. Jogos como a viola e viola corrida, a subida ao pau ensebado, os bolos, a porca, o pano, o marro, as corridas de sacos, o truque da macaca ou do caracol, o sapo, o ovo-pico-aranha, os bugalhos ou carraboujos, que depois foram berlindes ou bolas [canicas], o trompo ou pião, o partir os potes [romper as olas], o da farinha ou farelo, a procura dos ninhos, etc, são jogos todos que ainda conservam o espírito lúdico, festivo e harmonioso, e que tanta alegria provocou em galegos e galegas. Jogos que estão, pelo seu valor educativo e psicomotor, por formar jogando e pelo mesmo prazer de jogar sem ter que competir, em contra da nefasta influência que em toda a sociedade, e especialmente em jovens e crianças, têm os desportos competitivos como o futebol, o basquetebol e o automobilismo e motociclismo. Nos quais os valores positivos que se podem observar são mínimos. Agora que em vez de clubes são sociedades anónimas e as contratações alcançam quantias astronómicas contrárias a qualquer princípio moral.

Fotograma de 'O balão vermelho'
Fotograma de ‘O balão vermelho’

Quero lembrar com carinho os trabalhos de pesquisa dos nossos jogos tradicionais por parte de Risco, Ben-Cho-Shei, Joaquim Lourenço, Romani, Brandim, Bouça-Brei… E em Portugal os de Pires de Lima, Leite de Vasconcelos e de António Cabral de Vila Real, nosso amigo, que infelizmente faleceu há vários anos na sua morada da cidade transmontana. A Cabral considero-o eu como o que mais sabia no mundo sobre o tema, e publicou vários e interessantes livros depois da sua recolha de jogos realizada no território de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Sinto orgulho de que a ASPGP, associação pedagógica a que presido, leve difundindo, na teoria e na prática, os jogos populares galegos, em infinidade de lugares e com muitos tipos de públicos, desde o ano 1980. E organizando durante dezanove anos (de 1995 a 2014) o seu programa “Ourense Lúdico”. Já em 1981 publicara um suplemento monográfico da revista O Ensino com o título de Os Enredos dos Rapazes. O limiar fora elaborado pelo professor Jurjo Torres e por mim, e Joaquim Lourenço permitira-nos traduzir para o galego o seu estudo da Revista de Diactelogia de Madrid. Porém, lamento muito o abandono do parque de jogos de Velhe, na minha cidade de Ourense, para o que no seu dia redigi eu o projeto de uso e utilização, requisito imprescindível para poder ter a respetiva ajuda da Comunidade Europeia, para o seu levantamento e construção.

Brinquedoteca
Brinquedoteca

Na Bengala indiana, onde tenho uma casa alugada no meio de uma fraga cheia de flores, árvores e animais na localidade tagoreana de Santiniketon (Morada da Paz), a que lhe pus o nome de “Casa da Galiza”, desfruto ao ver muitos rapazes e raparigas a jogarem com infinidade de jogos tradicionais exatamente iguais aos nossos, dos quais a única diferença é o nome que empregam para os nomear. Quando tenho tempo fico a jogar com eles, e surpreendem-se de que eu saiba jogar à bilharda, o truque ou macaca, as andas, o pião ou os bilros. Aos quais de criança jogava nos recreios da minha escola da Corna em Pinhor, perto de Ceia.

Praticar nas nossas escolas todos os nossos jogos populares e tradicionais, fazendo intercâmbios entre estabelecimentos de ensino e encontros lúdicos, considero que é a melhor maneira para que terminem por ser recuperados. Sem esquecer o importante que para a Galiza é que se organizem encontros de brinquedos e jogos populares com estabelecimentos de ensino de Portugal, especialmente no território de Minho e Trás-os-Montes, onde os jogos são os mesmos que os nossos. E algo também poderiam ajudar para a sua recuperação e divulgação os meios de comunicação, nomeadamente a TV. E, em tempo das férias do verão, é fundamental ocupar o tempo de lazer de crianças, adolescentes e jovens, organizando com eles atividades lúdicas e artísticas, ali onde se encontrem, nas aldeias, vilas, nas praias, na montanha e nas praças, parques e jardins das cidades. Para poder fazer estas atividades é necessário o apoio de concelhos, Deputações e das conselharias correspondentes da Junta galega. Mas, para isto, é necessário que as instituições tenham dirigentes com cultura e sensibilidade.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, etc.) e o fundo dos filmes e documentários antes resenhados.

Para dinamizar o tempo de lazer das crianças e adolescentes da nossa aldeia, vila ou praça e parques das nossas cidades, organizamos uma brinquedoteca de verão. Na mesma podemos realizar atividades artísticas, a base de oficinas pedagógicas e obradoiros artísticos variados, trabalhos manuais, artesanato e aproveitamento e reciclagem de materiais da natureza e de desfeita. Completamos o programa com atividades lúdicas, brinquedos, jogos tradicionais, no duplo formato de com materiais e outros que não necessitam de materiais (o pano, o marro, os saltos, carreiras, etc.). Ademais do apoio dos concelhos podemos contar com a ajuda voluntária de jovens e de pessoas da terceira idade, para dinamizar as atividades correspondentes.

Com motivo da festa patronal da nossa paróquia, se é no verão (julho, agosto ou setembro), podemos organizar, dentro do programa festivo, um Encontro Lúdico de Jogos Populares, no que possam participar todos os cidadãos das localidades que existam no termo paroquial e/ou municipal.

 

Lançamento do livro 50 anos de Abril na Galiza, em Vigo

A Mesa tramitou mais de um milhar de expedientes em 2023

Areias de Portonovo, uma jornada atlântica da Galiza ao Brasil

A USC comemora os 50 anos da revolução de 25 de Abril que deu início à democracia contemporânea em Portugal

Sónia Engroba: ‘Não somos conscientes nem conhecedores do poder da nossa própria língua’

Novidades Através: 50 anos de Abril na Galiza

Lançamento do livro 50 anos de Abril na Galiza, em Vigo

A Mesa tramitou mais de um milhar de expedientes em 2023

Areias de Portonovo, uma jornada atlântica da Galiza ao Brasil

A USC comemora os 50 anos da revolução de 25 de Abril que deu início à democracia contemporânea em Portugal