Bom dia, comunidade! anunciam os Tribalistas na sua Carnavália, presságio do final do inverno, promessa de transformação da primavera. Esse prenúncio de esperança, que a ouvidos galegos chama do além do oceano, do Sol poente, do Brasil ilha das Maravilhas, parece abraçar nestes tempos também toda a Europa.
A dormida Escócia acorda rematadamente independentista nas eleições do chamado Reino Unido, num facto histórico sem precedentes que devia ser e não foi anunciado no megafone internacional. Os jornais europeus colocaram nas suas capas a referência à maioria ‘absolutista’ dos conservadores ingleses, um claro sintoma da deriva neoliberal europeia.
Sobrevivendo às vermelhas águas do Mediterrâneo, entraram também os ventos de mudança da Grécia. Intrometeram-se na política portuguesa e espanhola, combatidos desde a imprensa conservadora, que é toda. O herói Varoufakis foi criticado pela sua força. E, contudo, vão deixando semente na meseta ibérica, onde novas vozes agromam ao calor da primavera desse Gredos cada vez mais harmonioso, irreconhecível a olhos dum Tolkien desprevenido, florido de propostas de direito a decidir e processos constituíntes.
Qualquer cousa está a mudar. E está a mudar mais rápido do esperado. Na grande Galiza, portal de entrada e saída de Atlantes, as novas opções políticas recolhem o sentir reintegracionista da sociedade: Na altura de redigir este artigo consta que as alternativas cidadãs Ourense en Común e Compostela Aberta contêm nos seus programas adesões à Lei Paz-Andrade e na sua elaboração participam elementos da comunidade reintegracionista. Outros partidos, como o Partido da Terra, há anos que vem realizando as suas campanhas integramente em Galego Comum.
A reafirmação da unidade da língua catalã feita pelo dirigente espanhol Pablo Iglesias no sábado 9 de maio em Barcelona, no ato de apoio à candidatura da Ada Colau à Presidência da Câmara, constitui um outro momento histórico sem precedentes. A defesa clara desta evidência filológica por parte dum político valhecano na própria Catalunha é indicativa de que a política da divisão linguística está a ruir. Acabou o tempo da manipulação. Chegam os dias do reencontro, da recuperação das raízes, da primavera das línguas.
As saudosistas do futuro, construtoras de utopias e demais heterodoxas temos o campo aberto. Entre o passado e o porvir apareceu uma janela de oportunidade. Uma dobradiça no muro. Uma greta na tristeza. Neste nosso Ano Santo essa porta ficará aberta o tempo inteiro e, no próximo, as Irmandades da Fala tomarão de novo a palavra. Não correm bons ventos para o conservadorismo. É tempo de mudança.
Opinião publicada originalmente no n.º 148 do Novas da Galiza, na seção Língua Nacional.