Por um galego na ciência e na tecnologia

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Escrevo sempre desde pequena. Desde que tinha oito anos ou assim. Na altura escrevia em espanhol –acho que devim ser alfabetizada assim, mas nom me lembro. Quando fum adolescente, polos 11 ou 12 anos, comecei a escrever em galego, ainda que sempre o falara. Mais ou menos escrevim sempre, mas sempre para mim: diários, poesia ou cadernos de viagem… até chegarem as novas tecnologias com que comecei a escrever no Facebook, como muita gente. Ao início em ILG e afinal, depois de ler o livro recomendado por um amigo O galego Impossível, de Valentim Fagim, após muitas conversas muito didáticas com vári@s amig@s, em AGAL por vezes. Muita gente perguntou-me diretamente o porquê de essa mudança. Os faq da AGAL ajudaram à explicaçom de que nom renegava do meu. Na altura já estava na universidade, onde seguramente está investigado o número de galego-falantes por curso, mas no meu –engenharia química– éramos Laura, José, Tareixa e mais eu as que sempre o falávamos, e depois andavam a meias Alberto, Sandra, Teresa, Sabela, Roi e um par de raparigas mais. Éramos pouc@s ainda que nom era um curso muito grande, só setenta e cinco. No doutoramento, para falar si que havia gente: 4 ou 5 de 30 ou 40. Porém, para fazer umha apresentaçom em galego, eu era a única. E eu nom gosto de ser diferente, nem de ser olhada como a teimuda que faz as apresentaçons dos biorreatores em galego, mas… o que ia fazer? Perder a minha língua? Essa nom era a minha ideia de ir à Universidade. O  que acontece noutros cursos de ciências –a olho nu– é similar.

Acho que nom dá para duvidar: a ciência galega fala e escreve espanhol.

Acho que nom dá para duvidar: a ciência galega fala e escreve espanhol. Lim algures que umha língua se normaliza com leis. De certeza, há muitas outras teses e propostas nas quais nom tenho aprofundado, mas essa soluçom em concreto nom parece que vaia chegar logo. O que si parece é que ter ciência avançada é umha oportunidade para nos situar no mundo como referente. Temos universidades que som ponteiras em alguns campos como no de tratamento de águas residuais fazendo contratos com Aquália –e recebendo prémios. Por que o vamos ignorar? Podemos reclamar a ciência feita na Galiza como a nossa ciência, a ciência feita por nós, as galegas e galegos, que cada dia da nossa vida temos dedicado montes de horas a entender o mundo um pouco. Sim, é certo que nom nos dedicamos a entender só o mundo da Galiza, nem o mundo lusófono. Porque todas vivemos num planeta onde se conservam as leis da física, onde a química é a mesma em Lugo que em Cuba e o estudo da biologia é também igual em Compostela que no Brasil.

Acho que seria um erro deixar de reclamar como produto da nossa cultura o Seminario sobre a avaliación da diversidade xenética de castes autóctonas de vides e maceiras portuguesas feito a 13 de outubro em Lugo,  ou o relatório do 15 de outubro A biotecnoloxía aplicada á conservación das plantas ameazadas, ministrado pola professora de Fisioloxía Vexetal María Luz González e a investigadora Anali Lizárraga, por pôr um exemplo  tirado do jornal da USC. Ou que em Vigo descobriram as propriedades anti-cancerígenas do grelo e da verça ou que também em Vigo comercializam umha nova aplicaçom para abrir e fechar garagens. Do meu ponto de vista isto todo é, também, cultura galega. E se a reivindicamos como nossa, como qualquer cousa que nos interessa e da qual nos orgulhecemos, se calhar mais cientistas galeg@s utilizem a sua língua para se comunicar ou digam que som galeg@s quando vam polo mundo, que nom som pouc@s. Sim, som ciente de que o tema da língua ou da identidade é um processo muito complexo onde confluem fatores socioeconómicos, históricos e até psicológicos, mas é por isso polo que penso que nom podemos perder oportunidades. Algumha página web, blogues, trabalho feito por professor@s, algumha instituiçom e raras referências nos jornais declaram-se insuficientes para reverter esta realidade. Nom pretendo com este blogue mudar esta situaçom de vez, mais sim contribuir a fazer mais visível o galego na ciência, e a ciência na língua galega, é se calhar um grau de areia, apenas um humilde contributo de umha engenheira pola sua língua. É o que eu entendo de algumha intervençom de Álvarez Cáccamo em que defende que a língua se assimila, numha sociedade de classes, a um avanço social. É nom nos enganemos, a ciência hoje é um avanço: cura doenças, permite comunicar-nos e muitíssimas aplicaçons de que já vos irei falando aqui.

Embora, há também muita gente que quer, gostaria ou vai tentar virar as costas à tecnologia. Mas saber e conhecer se algum produto é bom ou mau, que vantagens tem ou que perigos –como acontece com os transgénicos, o bio-etanol ou os carros elétricos– e como isso nos pode afetar se vivemos numha vila de Lugo, numha aldeia de Ourense, em Coimbra ou em Salvador de Baía, é preciso para poder fazer umha crítica com fundamento e ser tomadas a sério. Vivemos num planeta finito e as mudanças num lado afetam em outros e estar um bocado pendentes disto, pode-nos proteger de decisons que nos afetem negativamente ou tranquilizar se nos afetam positivamente.

Entom, falamos de ciência?

Aí é onde entro eu, a dar o meu parecer sobre avanços científicos em galego-português. Aplicarei o método científico sobre os dados que apresente, contrastarei os meus conhecimentos e a informaçom que aqui apresente que pode e dever ser rebatido com dados se cometer algum erro e tentarei apresentar o lado mais divertido da ciência. Com certeza, alguns temas serám muito conhecidos, com mais ou menos profundidade, mas espero que vos sejam um bocado interessantes…E ás vezes, algumha cousa de feminismo também escreverei, porque como a do galego, é outra das minhas teimas…

Entom, falamos de ciência?

 

(*) Artigo publicado originalmente no blogue da autora.