PGL – O escritor moçambicano Mia Couto afirma-se resistente ao Acordo Ortográfico que no Brasil vigora desde 1 de Janeiro deste ano. Para o escritor, os países pobres de língua portuguesa precisam resolver, antes da reforma, outras cousas que nom estám a ser discutidas.
Couto reconheceu que pode haver algumas razons para se fazer uma reforma ortográfica mas afirmou-se crítico com o discurso que foi feito para justificar o acordo, posicionado na ideia de ficarmos mais próximos, o que para o autor de “O Último Voo do Flamingo” «é mesmo mentira», e assim, Mia Couto diz sentir prazer em ler autores brasileiros com «elementos gráficos diferentes para que essa diversidade esteja presente». Ainda, o autor refere nom ter «medo de uma língua que tenha diversidades com a traduçom de marcas culturais e geográficas» e acrescenta que entende que em Portugal o Acordo seja acolhido com muitos mais nervos do que em Moçambique, um país com mais de 25 línguas africanas e onde o português é tido como segunda língua.
Quanto à literatura, Mia Couto vem de lançar ao prelo o livro intitulado no Brasil “Antes de nascer o mundo” e cujo título em África e Europa é “Jesusalém”. Mia Couto considera-se antes de tudo um poeta e diz que o que lhe fascina na prosa é o «poder fazer a criaçom poética, nom só em cima da linguagem, mas em cima da narrativa», pois «a poesia nom é só um gênero literário, é uma maneira de ver e sentir o mundo».
Após 16 anos de guerra civil com um saldo de um milhom de mortos, Mia Couto se diz céptico, mas que a literatura pode ajudar a cicatrizar as feridas: «Eu faço arte, literatura, e sou movido por este desejo de ter um compromisso ético de criar uma sociedade nova em Moçambique, um mundo mais justo com mais verdade».