Língua nacional

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Por Valentim Fagim

Um dos artigos do nosso periódico, o “Novas”, que me ficou a habitar a cabeça é da autoria de Toni Lodeiro. O tema era a gestão do tempo e a nossa pobreza na moeda-tempo. Adorei sobretudo como se despedia a indicar que, para ser coerente com o texto precedente, anunciava ser aquele o seu último artigo na seção que ele criara e que continua mas com outros articulistas: Consumir menos, viver melhor.

Língua nacional começou em maio de 2006. Tinham que ser peças de 1.400 carateres. Para quem estava habituado a debruçar-se sobre a língua usando várias páginas era sentir-se como esses artistas que se dobram até caber numa caixa de sapatos. Tudo bem desde que não se mida 1,93. Os leitores e leitoras dirão se me contorcionei certinho.

Revendo as colunas publicadas, por aí umas 90, reparo que, afinal, nem martelei em tantos pregos; sempre há uns focos temáticos que nos tornam satélites. Tentei evitar, na medida do possível, a equação forma/correção. Gera tantos adeptos como suscetibilidade e, a meu ver, não deixa de ser um eco. Preferia debruçar-me precisamente sobre os ecoadores. Para já, a língua como uso: que implica ser uma língua? Funciona a língua da Galiza como língua na Galiza? Chega com dizer: o galego é uma língua para o ser realmente? Parece que não.

Ligado ou derivado destas perguntas, surgia outro cravo onde bater, a identidade: quem fala a nossa língua? É apenas nossa ou é compartilhada? Que temos a ganhar com a segunda vivência, a de uma língua internacional? Na Galiza há duas estratégias para a língua, uma ignora a língua oficial de oito países, as suas gentes e as suas produções, a outra fai-nos seus. Que temos a ganhar com ignorar? Creio que nada. Quem ganha? Quase ninguém.

Para além de forma, usos e identidade, temas comuns quando se fala de língua no país, uma marca da casa, atitudes e discursos. Só tenho duas certezas na vida, uma é que vou morrer, a outra que a melhor estratégia para a nossa língua na Galiza é a luso-brasileira-angolana. Ora, o cemitério está cheio, para além de cadáveres, de boas ideias. Temos que saber comunicar e manter uma relação laica com a língua. E muita empatia. Só assim os muros tornam janelas.

 

(*) Opiniom publicada originalmente no n.º 133 do Novas da Galiza.