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HÉLDER CÂMARA E AS SUAS AÇÕES HUMANITÁRIAS

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Para a série dedicada aos grandes vultos da humanidade escolhi desta vez o grande bispo brasileiro Hélder Câmara, que ocupa o nosso sétimo depoimento da série iniciada com Sócrates. E fi-lo porque é a pessoa idónea para comemorar o Dia Mundial da Ajuda Humanitária, que, por proposta da ONU, se celebra cada 19 de agosto em todo o mundo.

Dom Hélder Câmara (1909-1999) foi um religioso, bispo católico e arcebispo emérito de Olinda e Recife. Ficou conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos. Recebeu diversos prémios, entre eles, o Prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos da América e o Prémio Popular da Paz, na Noruega. Nasceu em Fortaleza, estado do Ceará, o dia 7 de fevereiro de 1909. Filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, jornalista e guarda-livros, e da professora primária, Adelaide Pessoa Câmara. Com 14 anos de idade entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde também cursou Filosofia e Teologia. Em 15 de agosto de 1931, com 22 anos de idade, Dom Hélder Câmara foi ordenado sacerdote, com a autorização da Santa Sé, pois não completara a idade mínima para ordenação, que era de 24 anos. No dia seguinte celebrou sua primeira missa. Em 1936, Dom Hélder Câmara foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, onde permaneceu por cinco anos. Foi um dos organizadores da Ação Católica que atuava junto às pessoas carentes. Em 1950, apresentou seu plano ao Monsenhor Montini (que viria a ser o Papa Paulo VI) para fundar a CNBB, que foi fundada em 14 de outubro de 1952. Em 1952 foi transferido para o Rio de Janeiro, onde permaneceu durante 28 anos. Nessa época desenvolveu diversas obras sociais. Fundou a Cruzada São Sebastião e o Banco da Providência, com o objetivo de atender os mais necessitados. Exerceu funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação. Foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi nomeado secretário geral da CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, onde organizou congressos para adaptação da Igreja Católica aos tempos modernos e a integração da Igreja na defesa dos direitos humanos. Permaneceu no cargo até 1964. Foi secretário da Ação Social entre 1964 e 1968. Em 1962, participou das reformas de base do governo João Goulart. Em 12 de abril de 1964, pouco antes do golpe militar, Dom Hélder Câmara foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Além das atividades pastorais de sua Arquidiocese, atuou em movimentos estudantis, operários e ligas comunitárias contra a fame e a miséria. Teve significativa participação contra o autoritarismo praticado pelos militares. Após escrever um manifesto de apoio à ação católica operária, foi acusado de comunismo, sendo proibido de se manifestar publicamente. Na madrugada de 26 para 27 de maio de 1969 o assessor de Dom Hélder, o padre Henrique, foi preso e torturado até a morte. Nesse mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos da América. Em 1970, em um pronunciamento em Paris, Dom Hélder denunciou a prática de tortura e a situação dos presos políticos no Brasil. Em 1972, foi indicado ao Prémio Nobel da Paz.

Dom Hélder Câmara criou organizações pastorais em prol da valorização dos pobres, criou projetos para atender as comunidades do Nordeste, que viviam em situação de miséria. Recebia apoio e convites para proferir palestras, presidiar ou receber homenagens das universidades brasileiras e instituições internacionais. Publicou 23 livros, sendo 19 deles traduzidos para 16 idiomas. Recebeu 30 títulos de Cidadão Honorário, 28 de cidades brasileiras, um da cidade de São Nicolau, na Suíça em 1985, e outro em 1987, de Rocamadour, na França. Ao todo foram 716 títulos de homenagens e condecorações. Em 1985 Dom Hélder foi substituído pelo bispo conservador Dom José Cardoso, porém continuou atuando em favor dos pobres. Em 1991, iniciou um movimento contra a fame. No final da década de 90, com o apoio de diversas instituições filantrópicas, lançou oficialmente a campanha “Ano 2000 Sem Miséria”. Dom Hélder Câmara faleceu na cidade do Recife, no estado de Pernambuco, no dia 27 de agosto de 1999, de parada cardíaca.

O Dia Mundial da Ação Humanitária celebra-se anualmente a 19 de agosto. O objetivo da comemoração é homenagear todos os voluntários do mundo pelo seu trabalho e divulgar as obras realizadas pelas organizações humanitárias espalhadas pelo globo apesar de todas as dificuldades vividas. A data também é conhecida como o Dia Mundial da Ajuda Humanitária e o Dia da Memória dos Trabalhadores Humanitários, prestando tributo a todos os funcionários e trabalhadores humanitários que foram mortos no exercício do seu trabalho. Neste dia, onde o mote é ajudar o próximo, pode fazer donativos ou juntar-se a uma organização humanitária local ou global. Pode também divulgar a data e as causas atuais urgentes nas redes sociais. Existem mais de 130 milhões de pessoas a precisar de ajuda humanitária para sobreviver.

Origem da data: Esta foi comemorada pela primeira vez em 2009, após a Assembleia Geral da ONU ter decretado o dia em sessão plenária em dezembro de 2008. O dia 19 de agosto foi escolhido em honra do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Sérgio Vieira de Mello, e de outros 21 funcionários e colaboradores da ONU falecidos no Iraque em 2003 durante uma missão de paz. Todos os anos a data se celebra com um tema especial. Em 2016 o tema foi “Uma Humanidade” procurando unir esforços em todo o globo para ajudar todos aqueles que a necessitam. As maiores atividades e cerimónias realizam-se em Nova Iorque, na sede da ONU.

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO:

    Título: Dom Hélder Câmara, o Santo Rebelde. helder-camara-capa-dvd

Diretora e Roteiro: Erika Bauer (Brasil, 2004, 74 min., cor).

Produção: Andréa Glória. Montagem: Sérgio Raposo e Liloye Boubli.

Fotografia: André Carvalheira. Música: Marcello Bernardi.

Som direto: Acácio Campos. Edição sonora e mixagem: Dirceu Lustosa.

Nota: Pode olhar-se entrando em:

https://www.youtube.com/watch?v=bvURWRz7jlE

Argumento: Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, morto em 1999. O filme enfoca desde sua participação como figura central da ala progressista da Igreja Católica, na década de 1950, criando a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), até suas ações durante a ditadura militar. O documentário apresenta a trajetória de Hélder Câmara, um dos líderes político-religiosos mais importante e polêmico do Brasil no século XX. Ao longo de sua vida Dom Hélder foi um incansável combatente à ditadura militar implantada no Brasil e também defensor de uma igreja católica mais próxima ao povo.

DEPOIMENTO SOBRE O DOCUMENTÁRIO:

Pelo seu interesse reproduzo a seguir o artigo publicado na revista Cinética (Cinema e Crítica) escrito pelo brasileiro Francis Vogner dos Reis sobre este documentário.

“Convém enquadrar Dom Hélder Câmara: o Santo Rebelde em duas tendências do cinema nacional: cine-biografia e documentário informativo, ambas com seus princípios, objetivos e funções muito bem resolvidos e fechados. As cine-biografias visam criar um imaginário, uma galeria de personalidades que fundam o Brasil novo (ou o novo brasileiro), mártires e heróis que simbolizam um país em que seus rebeldes – inteletuais ou “gente do povo” – tomaram o poder. Assim, é compreensível o interesse por Olga Benário, Cazuza, Glauber Rocha, Vinícius de Moraes, Vladimir Herzog, Zezé di Camargo, e mais recentemente Zuzu Angel (e, daqui há pouco tempo, Frei Betto – quando Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, chegar às telas). Com relação ao fato de ser documentário, a condição ao se enquadrar nesse gênero é a de estabelecer uma revisão da figura do arcebispo de Recife e Olinda por meio da reflexão e da rememoração “reais” dos amigos, parentes, religiosos, personalidades e sociólogos por meio de entrevistas, matérias de jornal, imagens de arquivo, além de frases e depoimentos do próprio Dom Hélder Câmara.

    O documentário parece ser todo realizado de uma maneira que visa atender uma demanda funcional: informar o espectador desavisado. É tão fechado em seus objetivos de esclarecer ao espectador sobre quem é o seu personagem, de levantar informações importantes sobre sua vida, sua rebeldia, sua fama, sua santidades, que não difere dos relatos que se baseiam na informação (alguns livros, jornais, programas de TV) como fonte de verdade. E como é uma biografia, não se furta em ser totalizador e tomar a linearidade como meio de revelar a superação e a consequência de um fato sobre outro. Não há, absolutamente, problema nessa forma (linearidade e abordagem integral), mas aqui é um método que absolutiza o discurso, o fecha em torno de si mesmo. O filme simplesmente não tem brechas para respirar. É invadido por uma avalanche de imagens e sons que eliminam por completo qualquer espaço vazio que possa ter e, por consequência, lhe insuflar vida. Sua herança, sua afinidade com programas televisivos, vem daí: da recusa de qualquer espaço. É a opção entre a busca por conhecer um personagem (como todos os vácuos a que isso tem direito) ou a simples reprodução das informações mais redundantes. Não por acaso a memória chama pela série de documentários “O Curso do Poeta”, exibidos recentemente pelo Canal Brasil. Esses documentários de David Neves e Fernando Sabino sobre escritores brasileiros não se furtam em falar da poesia por meio de algumas imagens dos poetas ou de lugares e situação ligados a eles. Os diretores fazem o esforço em entender os escritores e as obras, não tendo problemas em perdê-los no meio do caminho, perdê-los justamente em função da junção desses autores e de suas poesias. Sabino e Neves fizeram um documentário com os escritores (no caso Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade), não sobre suas histórias pessoais. Guardadas as devidas diferenças, não dá pra não repensar, a partir desses poucos pontos de partida, o procedimento de construção de personagem em Dom Hélder. O peso do personagem e as obrigações da diretora com a dimensão dele asfixiam qualquer possibilidade que seu filme tenha de construir um discurso mais livre. Não seria questão de desconstruir o mito (como se essa fosse uma solução para o imperativo afirmativo do documentário), mas de burilar o interesse da montagem por Dom Hélder.

    Em muitos momentos vê-se acenar possibilidades, já que Dom Hélder tinha consciência plena da força de sua imagem, como cristalização de sua própria crença. Algo que algumas personalidades do catolicismo – na figura de um líder e profeta – e a mídia conjugados conseguem fazer muito bem, talvez melhor do que ninguém: se autoconstruir em mito, personificar um paradigma. O bispo vermelho (como era chamado pelos militares) tinha uma vocação antológica de se fazer protagonista (chamando também ao protagonismo quem o ouve), e de não separar seu destino histórico de seu destino humano. Mas essa é a figura de Dom Hélder de modo geral, não a imagem que o filme de Erika Bauer conseguiu construir. Entendê-lo como o profeta que foi seria deixar ressoar essas vibrações, não domesticá-las da maneira como foi feito. Por isso, nesse caso e voltando à sentença inicial, questionar a razão da existência do filme não é indagar sobre a importância dele como fato cultural – já que ele parece bem acomodado em uma função, digamos, educacional – mas sim como fato estético. O estético chama o histórico e ai Dom Hélder Câmara: o Santo Rebelde entra no ramerrão dos filmes brasileiros em que a história é morta: um fenômeno plano que se basta pela “lição”.

HÉLDER CÂMARA NAS SUAS PALAVRAS:

    Recolho a seguir uma escolma das frases e palavras pronunciadas no seu momento por Hélder Câmara, reveladoras da sua obra e pensamento.

“O segredo da eterna juventude é dedicar a vida a uma causa”.

  -“Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar do terrível perigo de, envelhecendo virar vinagre”.

  -“Não deixe que o tempo escorra por entre os dedos abertos de tuas mãos vazias. Segura-o de qualquer maneira para que ele vire eternidade”.

  -“Não te irrites se quem te procura, se quem te vem falar, não consegue traduzir o tumulto que traz consigo…Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio…”

  -“Há pessoas que, independentes de idade, pelo que são, pelo que dizem, pelo que fazem, são sempre meio-dia”.

  -“Quando olhares em torno e tudo parecer treva, escuridão, fantasma, antes de clamar contra a maldade dos tempos e dos homens examina se estás sendo a luz que deves ser”.

  -“Tem carinho especial, Senhor, com as pessoas muito lógicas, muito práticas, muito realistas, que se irritam com quem crê no cavalinho azul”.

  -“Quero uma igreja pobre para os pobres”.

  -“Sempre que procura defender os sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de fazer política”.

  -“É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”.

  -“Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”.

  -“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Levo-as no coração”.

  -“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo”.

  -“A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar”.

    TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

    Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma e o fundo do documentário antes resenhado, realizado por Erika Bauer.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Hélder Câmara, o seu pensamento, a sua vida e a sua obra. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. Completaremos a mesma com uma secção dedicado ao Brasil e à sua história e cultura.

Estudantes e docentes comprometemo-nos a ler alguma obra de Câmara, por exemplo Mil razões para viver ou O deserto é fértil. Também algum livro-ensaio sobre a sua figura. Podemos escolher o intitulado Dom Hélder Câmara: um modelo de esperança escrito por Martinho Condini, ou Dom Hélder Câmara, o profeta da paz, da autoria de Nelson Piletti e Walter Praxedes. Depois de todos terem lido o livro que escolhemos, organizamos um Livro-fórum sobre o mesmo.

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