Economia e Cultura

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Por Adela Figueroa Panisse

Nestes dias de confusão semelha que ambos termos estão encontrados.

Pelos vistos, defender os sinais de identidade e a cultura dum País, neste caso o da Galiza, poderiam ir em contra dos interesses económicos comuns dos galegos. Isso  é o que se desprende do documento que o Clube Financeiro de Vigo elaborou como proposta para o novo Governo da Galiza. Neste documento, no ponto 6 e derradeiro, lemos a demanda  da eliminação  do decreto  124/207 que conhecemos como Decreto do Galego. Também  lemos: «sin que ello implique renuncia alguna a un patrimonio cultural que estamos obligados a conservar». O Clube Financeiro apoia a livre escolha dos Pais para a língua em que quiserem  educar os seus filhos.

Não  me «cadram» umas declarações com outras. Se, por uma banda, se pretende rentabilizar os processos (incluído o educativo) como se vai poder manter a despesa  que poderia implicar a duplicidade de professorado em todas os centros educativos da Galiza?.

Hoje este direito não está garantido. Em absoluto. Eu reto a quem queira que intente educar seus filhos e filhas em galego, numa cidade como Lugo. Se o galego não se ensina nas escolas, como se vai cumprir o dito mais acima de conservar um património cultural a que se sente obrigado o Clube Financeiro?. Julgam que isso se pode alcançar tendo, apenas aulas de idioma galego?. E se o galego vai desaparecer, como parecem  desejar, para que fazermos  essa  despesa  extra em aprender a língua do nosso País?

As línguas ou são úteis ou não são. Eu creio que preservar e cultivar o nosso  Património é um exercício económico de máxima importância. Tanto se nos referimos ao Património cultural como ao ambiental.

A língua galega, ademais, pertence a um sistema linguístico que tem mais de 200 milhões de utentes (O Galego-Português). Os galegos temos a grande fortuna de podermos dominar duas línguas extensas que tocam todos os continentes do Mundo sem grande esforço.

O Clube Financeiro pede que se fomente e apoie a Eurorregião  que pode achegar uma população de mais de 6 milhões de pessoas entre o Norte de Portugal e a Galiza. Neste horizonte a língua galega não pode ser mais útil e pode representar mais um investimento que uma carga económica.

No seu documento aparecem, porém, uma serie de medidas de grande interesse, coincidentes com muitas implementadas polo anterior governo como foi a inversão em I+D+I, («Galícia há hecho um gran  esfuerzo em I+D…»).

Outras que já foram expremidas  como objetivos como a  vindicação  de Galiza como lugar estratégico, no meio do Atlântico, pola sua ubiquação geográfica no meio das grandes linhas de passagem marítima. A vindicação  dos Caminhos de Ferro «En este sentido, también aquí es prioritario el ferrocarril, ya que el futuro de nuestros puertos depende precisamente de la intermodalidad ferro-portuaria». Nisso coincidimos os ecologistas, pois vimos defendendo este transporte como o mais seguro, económico e ecológico desde há  bem tempo.

Incide também o documento na necessária ordenação do território galego. As províncias e os municipios respondem a uma estruturación decimonónica que, depois da distribuição  actual da população  ficam ultrapassadas. Propôem a fusão  de municípios que hoje se faz timidamente sob a forma de «mancomunidades» («posiblemente, no es rentable desde un punto de vista político, pero sí lo es desde un punto de vista económico y de ordenación del territorio de un modo más racional»).  «La disposición de las Directrices de Ordenación del Territorio, que deberán evitar nuevos núcleos dispersos».

Isso  coincide com as petições  dos grupos ecologistas que demandam a implementação  das Directrizes de Ordenação  do Território e  que os PXOMs não  favoreçam  a actual proliferação de novos núcleos satélites das vilas clássicas que incrementam o gasto energético e dificultam qualquer plano de comunicações  racional.

«En este ámbito, cobra además especial sentido el desarrollo del transporte ferroviario de cercanías, con nuevos proyectos ferroviarios que aprovecharían las redes en desuso.»

Atrevo-me a relacionar estas recomendações com o recentemente aprovado Informe  Auken polo Parlamento europeu e que põe em questão todo o proceso urbanístico espanhol acusando a Espanha de implementar a especulação ao abrigo dum modelo urbanístico que fomenta a corrupção generalizada.

Hoje em Lugo, numa intervenção do Fiscal Geral de Galiza, Dom Carlos Varela, apontava ao atraso na  distribuição dos órgãos administrativos, como o dos municípios, alguns pequenos e despovoados que não tenham nenhuma hipótese de se manterem economicamente sendo permanentemente dependentes. Isso representa um problema,  não  só para o desenvolvimento económico da Galiza como um travão para uma justiça ágil eficaz e dinâmica. Defendia O Sr Fiscal o fomento de áreas metropolitanas e das cabeceiras das comarcas como núcleos  motores de desenvolvimento intercomunicados por vias ágeis como os comboios de cercanias.

A Ecologia trata do bom uso e administração dos nossos recursos naturais e culturais. Para que durem o maior tempo possível, e para o maior número de seres vivos. Para que estes recursos sejam optimizados mediante boas práticas ambientais.

Não creio que isso esteja em contra duma economia saudável que pretenda uma boa distribuição da riqueza entre os seres humanos.

Sinto que no seu documento, o Clube Financeiro incorporasse essa apostila de referência ao idioma galego, como se este (meu pobre!…) pudesse ser um impedimento ao nosso  comum desenvolvimento. Penso que erram estrepitosamente. Não vejo que o plurilinguismo tenha sido um impedimento para Suíça, Catalunya, Bélgica, etc.  O que representa uma riqueza não pode ser um impedimento de desenvolvimento. Cuido que quiseram oferecer-lhe uma guindinha ou ginginha a certos sectores da direita que já estão a reclamar a Feijó a sua dívida para deixá-los algo mais contentes e por isso puseram, apegado no derradeiro lugar da sua demanda, aquilo referido ao idioma.

De outro modo não  entendo que gente que passa por inteligente cometa tal erro.