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Carlos Mendes Pereira – Entrevista

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Fotografia: Olívia Pena

Carlos Mendes Pereira é um diretor de fotografia portuense que mora em Carvalho, na Galiza, há uns aninhos. Tripeiro até à medula desde que nasceu e profundamente galeguista desde o preciso momento em que conheceu esta terra, é sócio da AGAL, associação para a qual coordena os cursos aPorto na cidade invicta. Com 45 votos, a sua locução do poema “Castellanos de Castilla” ganhou com clareza o concurso “Rosalia é Mundial”. Agora, preparou esta nova edição da leitura do poema com fotografia própria e música de Chopin.

O que achas que levou a tua leitura à vitória? O poema ou a declamação?
Creio que o conteúdo do poema é claramente vencedor. Dito de forma sentida pela autora, veicula o sentimento de tantas pessoas que passaram por semelhantes provações. Em memória destas e tentando honrar o sofrimento colectivo, li-o de forma grave, como o tema exige.

Porque escolheste “Castellanos de Castilla”?
Não sendo um grande admirador da obra de Rosalia de Castro, encontro grande afinidade com alguns poemas de caracter social. Embora a forma seja sempre mais de lamento do que de luta, o conteúdo alerta para grandes causas pelas que há que lutar, no passado, como agora. Vários desses temas são comuns às realidades portuguesa e galega, mas a maioria, como a emigração, por exemplo, também comuns a muitas outras sociedades. De entre estes, um destaca-se como exclusivo para galaico-portugueses, a relação com Castela, que sempre subjugou – e subjuga- a Galiza e que tentou ferozmente fazer o mesmo a Portugal. No pasarán!

Decidiste logo nom alterar (lusitanizar) o vocabulário e a morfologia do poema; só usaste a tua pronúncia portuense para ler o galego rosaliano. Porquê?
Sendo dois jovens ramos de um mesmo ancestral tronco, sei que não estou a ler noutro idioma, pelo que me parece ser natural não alterar mais do que com a minha pronúncia, tal como faria com um poema dos Açores ou do Alentejo, regiões que também têm diversas diferenças linguísticas em relação ao meu português do Norte. Mais ainda, creio ser importante manter as obras o mais originais possível e parece-me vergonhoso que sejam ensinadas à população estudantil galega versões adulteradas destas obras, mais uma via para a disseminação da normativa castelhanizada da língua galega. É uma estratégia dissimulada e desonrosa e, no caso concreto deste poema, parece-me uma grave ofensa à sua autora e ao seu conteúdo, claramente anti castelhano.

Achas que essa leitura que fazes do poema seria compreendida em Portugal?
Indiscutivelmente! Não só é compreensível, como ninguém diria que não é um poema em português.

Como está a ser a tua experiência galega? Como vês a nossa cultura?
Sendo eu do Norte de Portugal, as diferenças culturais são pouco significativas e, de todas elas, a que mais destacaria é o forte sentimento nacionalista português, que nos levou a centenas de anos de lutas pela preservação da independência. Não digo que se devesse lutar pela independência da Galiza em relação a Espanha, mas dever-se-ia lutar de forma determinada pela independência cultural e linguística, pondo fim ao complexo de inferioridade que o colonialismo castelhano conseguiu criar dentro do povo galego. É triste ver como, 40 anos depois do fim das perseguições ao idioma, o castelhano ainda é visto como a língua de prestigio, tal como triste é ver as camadas mais jovens da sociedade a preferir essa língua. Mas, quando a luta é justa, a vitória chegará! É notório que por baixo de uma capa colonizada, ainda está um povo rico, com a sua cultura e a sua língua, algo que testemunho diariamente quando, ao falar sempre em português com todas as pessoas, vejo que, por exemplo nas casas comerciais, me respondem em galego depois de me terem inicialmente falado em castelhano. O galego está vivo!

Quero, no entanto, deixar claro que nada tenho contra Castela, o seu povo ou a sua cultura, que muito aprecio e onde tenho grandes amigos. Para mim, o caminho certo para a península seria a união de todos os povos dentro de uma grande república ibérica na linha de Castelao, belíssima e colorida manta de retalhos, pluriidiomática e pluricultural. Muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa.

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