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BENJAMIN FRANKLIN, PRESIDENTE DA SOCIEDADE PARA PROMOVER A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

 

No dia 23 de agosto celebra-se todos os anos o “Dia Internacional contra a Escravatura”. Dentro da série que estou a dedicar a grandes vultos da humanidade, para que os conheçam todos os escolares, acho que Benjamin Franklin é o mais indicado para lembrar esta jornada comemorativa, pois no seu dia foi o Presidente nos EUA da Sociedade para promover a abolição da escravatura, e ademais foi um digno político, um excelente cientista e até um inventor. O depoimento que a ele dedico faz o nº 62 da série que iniciei com Sócrates.

Aproveito a estupenda biografia sobre ele que no seu dia escreveu a brasileira Dilva Frazão.

benjamin_franklin_with_bust_of_isaac_newton_by_david_martin-1767Benjamin Franklin (1706-1790) foi diplomata, escritor, jornalista, filósofo e cientista norte-americano. Assinou três documentos principais na criação dos Estados Unidos: a “Declaração da Independência”, o “Tratado de Paris” e a “Constituição”. Fundou na Filadélfia uma Academia que mais tarde se transformou na Universidade da Pensilvânia. Como cientista, investigou e interpretou o fenômeno elétrico da carga positiva e negativa, estudo que levou mais tarde à invenção do para-raios.

Benjamin Franklin nasceu em Boston, a 17 de janeiro de 1706. De origem humilde, aprendeu a ler sozinho. Com dez anos de idade foi obrigado a deixar os estudos para trabalhar com o pai. Empregou-se depois na oficina gráfica do irmão. Com 17 anos de idade mudou-se para Filadélfia onde trabalhou como impressor, dedicando as horas de folga ao estudo das letras e das ciências. Em 1729 tornou-se proprietário de uma oficina gráfica e iniciou logo depois a publicação do jornal The Pennsylvania Gazette, que seria mais tarde o Saturday Evening Post. Com o pseudônimo Richard Saunders, publicou no Poor Richard’s Almanac, coletânea de anedotas e provérbios populares. Ambos tiveram grande êxito e deram renome ao editor. Vendia tão bem que Franklin pode montar tipografias em outras das 13 colônias americanas. Com 47 anos de idade, acumulara tamanha fortuna que se retirou dos negócios. Criou na Filadélfia o corpo de bombeiros, fundou a primeira biblioteca circulante dos Estados Unidos e uma Academia que mais tarde se transformou na Universidade da Pensilvânia. Organizou um clube de leituras e debates, que deu origem à Sociedade Americana de Filosofia, e ajudou a fundar o hospital do estado.benjamin-franklin-descobridor-cientifico-2

Nunca deixou de estudar. Aprendeu idiomas, tocava vários instrumentos musicais e dedicava-se às ciências. Suas obras sobre eletricidade, das quais a mais importante é “Experiências e Observações sobre Eletricidade” (1751), foi publicada nas colônias e na Europa. Inventou o para-raios e criou termos técnicos que ainda hoje são usados, como “bateria” e “condensador”. Criou também as “lentes bifocais”. Benjamin Franklin participou da Assembleia da Pensilvânia e, do Congresso de Albany (1754) apresentou um plano de união das colônias inglesas. Em 1757 foi enviado à Grã-Bretanha para solucionar a disputa entre a Assembleia da Pensilvânia e a Coroa Britânica. Lá permaneceu até 1762. Tornou-se conhecido pelo espírito conciliatório. Voltou à Londres, em 1766, como embaixador extraordinário das colônias. Em março de 1775, convencido de que a guerra pela independência era iminente, retornou a Filadélfia.

Designado delegado no II Congresso Continental fez parte com Thomas Jefferson e Samuel Adams, do comitê que redigiu e assinou a Declaração de Independência (1776). Tentou inutilmente convencer os canadenses a entrarem na guerra como aliados das 13 colônias.

Ainda em 1776 partiu para a França em busca de ajuda e foi recebido como personalidade eminente nos círculos parisienses. Assinou o “Tratado de Paris” (1783) que resultou em uma aliança entre os dois países. De volta a Filadélfia em 1785, foi recebido com entusiasmo pelos concidadãos e eleito presidente da Pensilvânia. Em 1787 assinou a “Constituição Americana”. Tentou em vão abolir a escravatura.

As atividades intelectuais de Franklin abrangeram os mais variados ramos do conhecimento humano, das ciências naturais, educação, política, ciências humanas e artes. Escreveu numerosos ensaios, artigos e panfletos. Sua obra mais importante é a “Autobiography”, publicada postumamente (1791). Chamado pelos contemporâneos de “apóstolo dos tempos modernos”, Franklin viveu os cinco últimos anos retirado da vida pública, cercado de amigos.

Benjamin Franklin faleceu na Filadélfia, Estados Unidos, no dia 17 de abril de 1790.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

1. Biografia de Benjamin Franklin.

Duração: 109 minutos.

https://youtube/wco58STXRpE

 

2. Benjamin Franklin. Biografia.

Duração: 27 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=uksfodiruIo

3. Benjamin Franklin para crianças.

Duração: 4 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=TmdyKiwMJ78

4. Maravilhas modernas. A tecnologia de Benjamin Franklin.

Duração: 44 minutos.

5. A vida de Benjamin Franklin.

Duração: 165 minutos. Produtora: Discovery History.

Nota: Existe edição em língua castelhana.

(Canal de História: Grandes Biografias em DVD, nº 26).

https://www.youtube.com/watch?v=WqHS1zcwvbI

6. 10 Ensinanças de Benjamin Franklin.

Duração: 6 minutos.

7. Benjamin Franklin. O meu científico favorito.

Duração: 4 minutos.

Nota: Existem no Youtube infinidade de documentários dedicados a Franklin.

FAMOSAS FRASES DE FRANKLIN:

– “Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia”.

– “Se um homem pudesse ter metade dos seus desejos realizados, teria mais aflições do que prazeres”.

– “Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água”.

– “Três pessoas são capazes de guardar um segredo, se duas delas estiverem mortas”.

– “Um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão”.

– “Escreve as ofensas na areia e os benefícios no mármore”.

– “A preguiça anda tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança”.

– “Cuidado com as pequenas despesas: uma fenda diminuta pode fazer afundar um grande navio”.

– “Para te contentares olha para os que possuem menos do que tu, e não para os que possuem mais”.

– “O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta”.

– “Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”.

– “As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo”.

– “Cedo na cama, cedo no batente. Faz o homem saudável, próspero e inteligente”.

– “Quem se apaixona por si mesmo não tem rivais”.

– “Neste mundo nada pode ser dado como certo, à exceção da morte e dos impostos”.

– “Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria”.

– “Você pode adiar, mas o tempo não posterga”.

– “O caminho dos preguiçosos é cheio de obstáculos, ao passo que o do diligente não tem quaisquer embaraços”.

– “Um bom exemplo é o melhor sermão”.

– “Viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como você o encara é que faz a diferença”.

– “Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa”.

– “Procura nos outros as qualidades que eles possam ter; em ti, procura os defeitos que certamente tens”.

– “Tem cuidado com os custos pequenos! Uma pequena fenda afunda grandes barcos”.

– “Ama os teus inimigos, porque eles falam-te dos teus defeitos”.

CURIOSIDADES SOBRE FRANKLIN:

Benjamin Franklin não estampa seu rosto na nota de 100 dólares, a mais popular dos EUA, à toa. Provavelmente as pessoas o conhecem por ter aprendido na escola sobre alguns de seus feitos. Ou então ao consultar o “Mega Curioso”, e já viram que ele teve experiências inusitadas com a eletricidade, e até souberam que aquele pequeno adaptador de tomada em T recebe o apelido de “benjamim” em uma provável homenagem ao cientista. Pois bem, tirando alguns detalhes, Franklin é um dos seres humanos mais incríveis que já existiram no mundo. Além de cientista e inventor, ele foi escritor, jornalista, diplomata, funcionário público, filantropo, abolicionista, entre outras qualificações. Ele também foi um dos delegados que participaram da fundação da Constituição dos EUA. Sua genialidade é inquestionável. No entanto, Franklin também tem outros fatos curiosos atribuídos à sua vida que pouca gente conhece, alguns incríveis e outros um pouco bizarros.

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Sendo assim, apresenta-se uma lista de 10 fatos que muitas pessoas provavelmente não saibam sobre Benjamin Franklin, baseados na publicação do site Fact Slides. O que resenhamos a seguir:

1. Um lema para o Grande Selo dos Estados Unidos:

Franklin deu uma sugestão para ser o lema do Grande Selo dos EUA. A frase seria “Rebellion to tyrants is obedience to God” (Rebelião aos tiranos é obedecer a Deus). O Grande Selo dos Estados Unidos é o emblema que representa a nação, aprovado pelo Congresso em 1782.

2. Escapou da morte em um incêndio:

O inventor estava em um concerto em uma ópera em 1781. A casa pegou fogo e, por pouco, ele escapou de morrer queimado.

3. O filho ilegítimo que permaneceu leal à coroa britânica:

Apesar das posições políticas do pai, que se tornou um dos fundadores da Constituição, William Franklin se manteve leal à coroa britânica. Depois da Guerra da Independência, ele se mudou para Londres, onde morou até o fim de sua vida.

4. Escreveu um livro sobre puns (!?):

Sim, esse ser humano fantástico que foi Benjamin Franklin escreveu a obra “Fart Proudly”, que em português, de maneira informal, podemos ler como “peide com orgulho”. O livro se trata de um ensaio científico sobre flatulências.

5. Pesquisa sobre o aumento da população americana:

O rápido crescimento no número de habitantes dos Estados Unidos foi tema de um artigo publicado por Benjamin Franklin. No trabalho, o autor constatou que a população americana iria ultrapassar a britânica em apenas 100 anos, e isso deixou as lideranças inglesas alarmadas. Esse fator acabou se tornando importante na opressão às colônias.

6. Abolição da escravatura:

A escravidão nos Estados Unidos foi abolida oficialmente apenas nos anos 1860, mas Benjamin Franklin demonstrou ser a favor do fim da escravatura já em 1790. Pouco antes de morrer, no mesmo ano, o inventor manifestou publicamente a sua posição abolicionista organizando uma petição que solicitava o fim da escravização e do comércio de pessoas ao Congresso. Infelizmente, os congressistas que eram a favor da prática conseguiram colocar a medida em debate e a petição não foi aprovada.

7. Os banhos de ar:

Franklin era um defensor dos “banhos de ar”, que nada mais é que ficar pelado por determinado período de tempo. Mais do que isso, ele deixava todas as janelas da casa abertas para que o ar fresco entrasse no recinto. Sua crença era de que essa prática não o faria mal e iria torná-lo mais resistente, além de evitar contato com bactérias de ambientes fechados durante muito tempo. A nudez não possui explicação científica, mas, quanto às bactérias, ele estava certo. Em outras palavras, isso pode ser considerado um precursor do hábito de abrir as janelas para circular o ar que nós possuímos atualmente. Ele tinha o costume de tomar banhos de ar de até uma hora de duração, tempo que ele aproveitava para ler ou para escrever algo em casa.

8. Os óculos bifocais:

Uma importante contribuição de Ben Franklin para a humanidade foram os óculos bifocais. Ele inventou esse acessório em 1784.

9. A harmônica de vidro:

Outra invenção de Franklin foi a não tão conhecida harmônica de vidro. O instrumento se popularizou na Europa a ponto de os famosos compositores Mozart e Beethoven criarem músicas para ele. Com o aparelho feito de discos de vidro, Franklin conseguia obter tons de sinos ao tocar as peças com os dedos molhados. Existe um vídeo para ver como funciona o instrumento feito pelo inventor.

10. O mapa da corrente do Golfo:

Foi Benjamin Franklin a primeira pessoa a mapear a forte corrente marítima do Golfo. Ele fez isso durante as oito viagens que realizou cruzando o Oceano Atlântico. Esse feito foi motivado por sua curiosidade em entender por que a viagem de ida para a Europa era mais rápida do que o trajeto de retorno.

 

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CONTRA A ESCRAVATURA NOS EUA:

A história dos negros africanos sempre foi conturbada, repleta de preconceito, exploração e humilhação. Foram obrigados a trabalhar de graça e em péssimas condições de vida pelo simples fato de possuírem a cor de pele escura. Esse passado desumano fez história em todas os países nos séculos passados, entre eles os Estados Unidos da América.

Para os norte-americanos, o comércio de escravos já era proibido desde 1 de janeiro de 1808, porém os estados do Sul não paparam de usufruir dos serviços prestados pelos africanos, enquanto os do Norte os enfrentavam. Por essa razão, sucedeu-se um conflito civil no país, conhecido como Guerra de Secessão, que culminou na abolição da escravatura nos EUA, anos depois.

Conflito de ideias: Norte – Sul:

Os Estados Unidos recebem esse nome, pois o território deste país é formado por diversos estados, porém nem sempre foram unidos. Em 1820 foi criado um tratado chamado de Compromisso do Missouri, que dividiu os novos territórios do Oeste em estados escravagistas e estados livres em igual número.

Do lado Norte, o movimento abolicionista ganhou força e importância, enquanto que no Sul, predominava a ideia de supremacia branca e ambição de manter o modelo econômico. Outra diferença entre essas regiões era a economia, que eram extremamente diferentes. No Norte, industrial e abolicionista, e no Sul, agrária e escravocrata. Nesta última, o sistema plantation –que consiste na grande extensão de terra para a monocultura e pelo emprego de mão de obra escrava – vinha sendo aplicado no cultivo de tabaco em várias partes do território sulista e como estava em pleno crescimento necessitava ainda mais de escravos, mesmo a comercialização sendo proibida.

Apesar de não concordar com a escravidão, a maioria da população Norte não estava preocupada com essa prática, mas sim com a extensão do Sul nos territórios.

Já os sulistas defendiam a ideia de que cada território tinha o direito de decidir sua posição e seus comércios. Diante desse conflito surge Abraham Lincoln, que leva ao Senado uma proposta de detenção da expansão da escravatura, a qual é negada.

Lincoln presidente, a reviravolta

Concordando com as ideias antiescravistas de Lincoln, os estados do Norte, que eram a maioria, resolveram apoiar a candidatura do jovem para presidente no ano de 1860.

Ao mesmo tempo, um jovem abolicionista chamado John Brown havia tentado uma rebelião de escravos na Virgínia, um dos estados que utilizavam mão de obra escrava.

Entretanto, John acabou sendo executado e o Norte o declarou vítima. Essa atitude revoltou os brancos sulistas, que ameaçaram se separar da união caso Lincoln ganhasse as eleições.

Mesmo o Sul votando contra ele, Abraham Lincoln foi eleito e de imediato instaurou um programa de limitação da escravatura. Esse pacote de medidas do então presidente, levou a desintegração de vários estados do Sul e o início da Guerra de Secessão.

Nesse momento de conflito, a proposta de Lincoln era manter os Estados Unidos unificados em um só país e adquirir forças estrangeiras, a fim de que a escravidão fosse abolida.

Em 1 de janeiro de 1863, o presidente emitiu o Ato de Emancipação, o qual declarava livre todos os escravos dos estados confederados. Estes também foram recrutados para fortalecer o exército da União. Por fim, em dezembro de 1865, foi promulgada a XIII Emenda à Constituição dos Estados Unidos, dando um fim a escravatura no país.

Resultados da guerra:

Mesmo com o fim da guerra civil entre os estados norte-americanos e com o fim da escravidão, os negros do Sul tinham alguns direitos cortados pelas leis locais. O acesso dos africanos em diversos segmentos públicos ainda era negado. Porém a luta dos povos afro-americanos pela igualdade não descansou, e foi defendida até o século XX.

A LUITA CONTRA A ESCRAVATURA NO BRASIL:

Sem dúvida, sempre houve abolicionistas. Mas durante, pelo menos, três séculos, eles não passaram de expressões isoladas, representando opiniões isoladas e individuais, como a do Padre Vieira, e nunca a de alguma classe, camada ou mesmo grupo de homens. A própria Maçonaria, que esteve ligada a tantos movimentos revolucionários em nossa história, somente considerou seriamente o problema da escravidão nos últimos anos do Império, quando a abolição já deixara de ser uma simples aspiração e passara a ser um imperativo econômico e social.

A luita contra a escravidão foi, durante três séculos, uma luita na qual os negros tiveram de luitar sozinhos não só contra os seus senhores, mas também contra a indiferença e mesmo cumplicidade dos brancos não senhores e dos mulatos forros. Os negros tinham contra si toda uma sociedade organizada para o fim específico de explorá-los e impedir-lhes a fuga.

Organizando-se em quilombos, promovendo insurreições, fugindo, suicidando-se, o negro buscava a liberdade e, secundariamente, a preservação da sua cultura. É extensa e marcada por muita violência a história da resistência dos negros e de sua luta contra a escravidão. A literatura, que é sempre reflexo de um povo, mesmo quando ela não se ocupa do povo e de uma época é, para o nosso caso, sintomática. Se excetuarmos Castro Alves e Bernardo Guimarães (A Escrava Isaura), pouco, ou quase nada, resta na nossa literatura de ficção da época, a favor do escravo. Macedo, como a maioria dos escritores do seu tempo, incluindo Machado de Assis, é completamente indiferente à escravidão e José de Alencar é escravocrata. Só muitos anos após a extinção do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queiroz, de 1850), mais ou menos pelo fim da Guerra do Paraguai, na qual os escravos luitaram em troca de sua liberdade, que esse ambiente de indiferença pela sorte do escravo começou a mudar a ponto de, a partir de 1880, se formar uma corrente de opinião apaixonada e avassaladora.

Durante a primeira metade do século XIX as rebeliões escravas estavam tirando o sono dos latifundiários, já que a ameaça apresentada pelo exemplo da independência do Haiti ainda era recente e havia indícios de que os africanos escravizados sabiam do processo de abolição e independência haitiana.

Só na Bahia foram mais de 30 revoltas até 1835, sendo a mais conhecida a Revolta dos Malês. Em Minas Gerais também ficou conhecida a rebelião de Carrancas, ocorrida em 1833, no contexto da instabilidade política do Período Regencial. Em 1838, houve, no Rio de Janeiro, a revolta de Manoel Congo, ocorrida no município de Vassouras. Entre 1839 e 1842, a Balaiada no Maranhão também levou preocupação à elite, principalmente pelo grupo de escravos liderados por Cosme Bento das Chagas, que se juntou aos balaios, mas que acabou derrotado e executado.

Todas essas ocorrências servem para que possamos refletir sobre o processo de abolição da escravidão no Brasil. A Abolição da escravidão foi fruto apenas das pressões internacionais, como da Inglaterra, e do movimento abolicionista a partir da década de 1870, composto em sua maioria por pessoas brancas e livres, ou seria a abolição decorrente da luita dos próprios africanos e seus descendentes contra a escravidão?

Estudos historiográficos das últimas décadas do século XX e de início do XXI apontam a existência de um forte movimento de luita contra a escravidão realizada pelos próprios escravos, a força de trabalho que durante quatro séculos criou as riquezas no Brasil. Apesar de terem sido intensas na primeira metade do século XIX, rebeliões de grande monta se tornaram mais raras na segunda metade do século. Mas em seu lugar as fugas, a formação de quilombos e a resistência cotidiana no trabalho contribuíram para pressionar o Estado a colocar fim à escravidão.

Essas três formas de luita intensificaram-se após o fim do tráfico negreiro em 1850, resultando na formação de quilombos próximos às cidades, na intensificação de ações de resistência e de reprodução das comunidades, como furtos e saques, além de ações contra os senhores e prepostos, que muitas vezes resultavam em mortes.

Esse movimento de resistência foi anterior ao movimento abolicionista e foi por sua virulência, além de ser uma ação autônoma da classe trabalhadora escrava, que houve a pressão que resultou no surgimento da legislação abolicionista. Dois motivos contribuíram para essa situação: a intensificação do tráfico interprovincial e a chamada crioulização da escravatura, com a maior utilização de escravos nascidos no Brasil.

Com o fim do tráfico internacional de escravos, os cativos passaram a ser comercializados das províncias do Norte e do Sul para as do Sudeste, em ascensão econômica com a produção de café. Muitos desses escravos eram nascidos no Brasil, sendo ainda considerados escravos “indisciplinados”, carregando com eles uma noção de “cativeiro justo”, ao qual impunham parâmetros de formas de organização, bem como de intensidade e métodos de trabalho aos seus senhores.

A “indisciplina” gerava constantes conflitos com os senhores e feitores, resultando em fugas e, muitas vezes, em mortes. Nesse sentido, as ações realizadas pelos escravos pressionaram o Estado brasileiro, somadas à pressão internacional, a criar uma legislação que garantisse gradualmente a abolição. Gradualmente, pois se temia que uma abolição abrupta levasse o país ao caos econômico, bem como ao estímulo uma revolução. Os debates para a criação das leis tinham como argumentos os aumentos de rebeliões escravas nas décadas de 1850 e 1860, demonstrando o temor das elites com a resistência à escravidão e também com o perigo de eclodir uma revolução escrava no Brasil. O medo do exemplo do Haiti ainda era presente.

A criação de uma legislação colocava ainda o Estado no meio da relação social existente entre senhor e escravo, situação que não ocorria anteriormente, já que o escravizado era uma propriedade do senhor, livre para dela utilizar como bem queria. Nesse contexto, os escravos souberam utilizar as leis nos tribunais para pressionar seus senhores e, em muitos casos, conseguir a liberdade. Houve um grande aumento de ações judiciais para que fosse possível colocar em prática a legislação que não era aceita pelos senhores, como a que garantia que o escravo podia comprar sua alforria, mesmo contra a vontade do senhor.

A Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi decorrente da preocupação das elites com a mudança da estrutura escrava no Brasil, com um maior número de escravos nascidos no país, o que teria resultado em maiores rebeliões. Libertar as crianças filhas de mães escravas era uma forma de impedir as rebeliões e insatisfações. A imposição do fim do tráfico interprovincial, em 1881, era também uma lei que tinha como preocupação o surgimento de uma guerra civil no Brasil, semelhante à ocorrida nos EUA entre 1861 e 1865.

Por outro lado, houve a concentração de escravos nas mãos de poucos senhores, após o fim do tráfico internacional, em razão da dificuldade de obtê-los e do aumento dos preços. Com isso, o escravismo deixava de ser uma instituição disseminada na sociedade brasileira, o que aos poucos contribuiu para a criação do sentimento abolicionista. Além disso, a liberação de capitais com o fim do tráfico internacional possibilitou o surgimento de setores sociais não comprometidos com o escravismo. Essas circunstâncias explicariam o surgimento dos movimentos abolicionistas a partir de 1870.

Entretanto, ao contrário do que afirmou a historiografia mais tradicional do Brasil, o motor do abolicionismo foram as ações dos escravos, como as fugas e a formação dos quilombos, as rebeliões, a ocupação de terras livres pelos fugidos, a insubmissão das regras de trabalho nas fazendas, demonstrando o protagonismo dos africanos escravizados em seu processo de libertação.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Franklin, a sua vida, a sua obra, as suas ideias, o seu pensamento e a sua luita a favor da abolição da escravatura. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. A citada amostra há de incluir também uma secção especial dedicada à luita contra a escravatura, especialmente nos EUA e no Brasil.

Desenvolveremos um Livro-fórum em que participem todos os escolares e docentes. O livro mais adequado para ler é o intitulado Autobiografia, que foi editado pela Martin Claret de Brasil no ano 2005.

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