Lusofonia e ambiente

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Celebrou-se em Torreira, Aveiro, Portugal, o III Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, entre os dias 7 e 12 de julho. Cinco dias de convívio intenso, variado e criativo que forneceram instrumentos de reflexão e trabalho para encarar as grandes problemáticas ambientais que está a enfrentar a nossa casa Comum, A Terra. Planeta excecional dentre os do Sistema Solar. Compre termos isso em conta ao tratar dos problemas ambientais: a nossa casa Comum, a dos seres vivos, é a única casa que conhecemos e que nos pode dar abrigo.

Eu não sei de nenhuma outra, vocês conhecem?

Esta casa Comum está a ser maltratada, ferida e desprezada pelos grandes poderes que regem o mundo na atualidade. Comandados por uma ideologia dominante, o Capitalismo Selvagem, só vê dinheiro como troca de benefícios. E este ainda tem que ser obtido fácil e rapidamente. Todavia, o capitalismo que estamos a padecer está a conduzir as sociedades humanas para uma progressiva concentração da riqueza em termos de dinheiro e de outros bens como o conhecimento de seu manejo, em muito poucas mãos. Uma cultura que deixa grandes camadas da população e países na pobreza.

Neste Congresso, vi florescer o canto das culturas indígenas e toda a sua sabedoria acerca das leis que moderam o ambiente. Mas também escutei o lamento dessas vozes a serem apagadas pelos poderes da política e do capital.

Sandra Manuel denunciava como a técnica abocanha a natureza e também como a África está a ser despossuída de seus bens materiais e culturais. Propugnava uma simbiose que permitisse combinar a Visão Mística africana com a visão Técnico -Cientifica da cultura “ocidental”.

A denuncia geral de que quando se tratar de problemas ecológicos os pobres são os mais solicitados a carregar sobre si os desequilíbrios provocados pelos países ricos, que a doutora Sandra Manuel tão bem enunciou, é uma ideia que percorreu todo o Congresso.

Mas também houve cantos de esperança e propostas de trabalho conjunto que vão poder enfrentar problemáticas de caráter global, como pode ser o lixo dos oceanos ou a melhora do estado dos nossos rios.

A comunidade lusófona, por estar estabelecida em todos os continentes, pode ter carta de ribeirinha de todos os mares e oceanos. É por isso uma comunidade de privilégio para coordenar ações eficazes e globais que possam dar resposta a estes problemas gerais da casa Comum que é a Terra.

Por isso, também é tão transcendente o fortalecimento duma Rede Lusófona de Educação Ambiental que possa garantir trabalho globalizado e coordenado em equipas de trabalho eficazes. Cumpre assinalar que o Português não é língua oficial nas Nações Unidas pelo qual documentos que lá se produzem nunca são redigidos na língua comum da lusofonia. Isto faz com que a sua eficácia, em termos de implementação de programas e ideais, esteja diminuída, pelo menos no campo da Educação. É necessário corrigir este pormenor com ações que demonstrem a eficácia das redes lusófonas de trabalho.

O Trabalho em Ecologia e, mais concretamente, em Educação Ambiental, deveria ser sustentado sobre dois eixos fulcrais: A Carta da Terra e o Tratado Internacional de Educação Ambiental (1992). Mas também a Educação Ambiental não teria sentido se não viesse a considerar a justiça social e a corresponsabilidade com o ambiente e com as camadas da população e os países menos favorecidos. A E-A tem muito a ver com o Socialismo, por tanto com o Ecossocialismo.

É por isso que tem tanta importância um grupo de Trabalho acerca de Ecossocialismo como aconteceu neste III Congresso.

Foi um Congresso muito completo, quer pela participação tão diversa de povos, países e pessoas de diferentes procedência e sensibilidades, quer pelos temas abordados, teoria e prática. Muitas experiências foram mostradas e discutidas com mais de 50 comunicações. Painéis foram expostos e mostraram-se em cartazes diversas experiências de países como a Galiza, Moçambique, Angola, etc.

Os grandes eixos de trabalho em Plenário foram, entre outros, A Carta da Terra e o resgate da reflexão ética; a Educação Ambiental como Ação Cívica, Ligações da Educação Ambiental com outros campos; Contextos da Educação Ambiental no Espaço Lusófono; Diversidade Cultural e Educação Ambiental na Lusofonia, ou temas e abordagens da Educação ambiental na CPLP. Todos de grande interesse.

A representação galega foi importante:

ADEGA, com comunicações (Projeto Rios, Charcos com vida, Compostagem, Projeto Cerna, Eira da Xoana), também participou noutros eventos como eventos paralelos de projeto Rios, Redes lusófonas de educação ambiental ou Ecossocialismo. Colaboramos a coordenar grupos de discussão e saídas ao campo.

Também houve uma boa representação da Universidade de Santiago de Compostela e do CEIDA (Centro de Extensão Universitária e Divulgação Ambiental), de Oleiros. Em total, foram mais de 15 trabalhos entre plenários, comunicações, painéis, oficinas, saídas ao campo ou exposições como a que levou a ADEGA acerca da compostagem dos resíduos sólidos.

A Educação Ambiental demonstra-se de grande transcendência para criar nas pessoas a urgência e a necessidade de comportamentos não agressivos para o ambiente, para criar uma cultura da sustentabilidade e uma capacidade de resposta contra políticas predadoras e destrutivas que estão a conduzir a um aquecimento progressivo do ambiente da Terra, ao esgotamento irreversível dos recursos, a uma crise energética e ambiental que leva para a pobreza e a exclusão grandes massas da população. Obrigam-nos a emigrar criando a nova classe de refugiados ambientais que procuram novos territórios onde poder viver, com desespero difícil de satisfazer.

Parabéns à ASPEA (Associação Portuguesa de Educação Ambiental), Organizadora deste Congresso. Uma difícil empresa que correu com sucesso em todos os aspetos que visava: Estabelecimento de conclusões de permanência e sustentabilidade ambiental, redes de conexão entre países grupos e pessoal, colaboração na implementação duma cultura de sustentabilidade e de ética ambiental e social. Para o largo mundo da Lusofonia e não só.

Parabéns ao Brasil que participou em peso com mais de 25 comunicações e outras atividades. Parabéns aos países africanos que vieram apresentar os seus problemas e a sua forma de confrontá-los. Parabéns a todos os mais de 400 participantes que trabalhamos, confraternizamos, contamos e cantamos cada um com o nosso som. Deu ainda para divertimento e algum passeio. Foi muito bom. Até à próxima!