flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.
‘Um homem na cidade’, Ary dos Santos
Nesta minha cidade já vivi amor e desamor, alegrias e tristezas, surpresas e deceções, ansiedade e calma. Lisboa é o cenário perfeito para a celebração dos sentimentos, para encontros e desencontros. Uma luz que cega mas reconforta o coração e um Tejo imponente a abraçar e receber todas as nossas lágrimas. Não é casual que o fado seja a música desta cidade, tão dramática na sua geografia urbana de altibaixos, no seu tecido urbano impossível e no seu fervilhar quotidiano de pessoas, carros, elétricos e tuk tuks.
Lisboa é uma cidade hospitaleira para o visitante mas por vezes agreste para quem a habita. Cidade de feitio malandro, Lisboa dá uma no cravo e outra na ferradura, não se compromete com ninguém mas deixa todos a sonhar apaixonados.
Não há cidade como esta para celebrar a solidão, para o deleite da saudade, para o amor… e para o desamor.
Obrigado, Ary dos Santos, por ter contribuído enormemente a escrever e cantar a alma da cidade.
Será que o fado pertence a Lisboa ou é Lisboa que pertence ao fado?
Ai Lisboa, quem te dera estar segura que o teu canto é sem mistura e nasce mesmo de ti.
A cantar é que te deixas levar
José Mário Branco
Nesta crónica saudosa, proponho um top ten de cenários lisboetas com banda sonora para passear os sentimentos (AVISO: não apto para pessoas que não gostem de fado).
- Alfama: apesar do turismo em massa e da descaracterização que tem vivido nos últimos anos, vagabundear nas ruas mais antigas de Lisboa continua a reconfortar o espírito. Uma caminhada, sozinho à noite, espreitar as tascas do fado o simplesmente sentar numas escadinhas e ficar sossegado.
- Miradouro da Nossa Senhora do Monte: o pôr-do-sol ou a noite são os momentos perfeitos para um encontro com essa pessoa especial. O murmúrio da cidade é a música ambiental, a dramática orografia lisboeta e o majestoso Tejo compõem o melhor dos cenários.
- Cacilhas: apanhar o barco “cacilheiro” e observar a cidade, do outro lado, no seu máximo esplendor. Especialmente recomendado para os dias em que as saudades apertam demasiado o peito.
- Jardim do Torel: um livro é a melhor companhia neste jardim no coração da cidade. Perfeito para desfrutar da solidão, quando esta é necessária.
- Cais das Colunas e Ribeira das Naus: uma caminhada para desanuviar a cabeça, uma corrida para aliviar o stress. À beira do Tejo os problemas são mais leves. A paragem obrigatória no Cais das Colunas para refletir uns instantes .
- Jardim Botânico: espaço dedicado à melancolia, deteriorado pelo tempo e a falta de investimento.
- Jardim da Tapada das Necessidades: jardim antidepressivo e pouco conhecido. Para apanhar sol, passear, conversar e desfrutar do bel far niente.
- Adamastor (Miradouro de Santa Catarina): para desfrutar com amigos da atmosfera juvenil e festiva deste miradouro, e sempre o Tejo. Especial para rir e esquecer os problemas.
- Jardins da Fundação Gulbenkian: ambiente intelectual que faz lembrar uma biblioteca ao ar livre. Com uma vegetação ligeiramente selvática, podemos encontrar momentos de tranquilidade e reflexão.
- Avenida da Liberdade: percorrer a aorta lisboeta, praticar o anonimato, sentar num banco e observar as árvores, a calçada e os carros a passar. Só com a cidade.
Lisboa é, em definitiva, uma cidade que aceita a solidão e a assume como uma característica da sua personalidade. Uma cidade movimentada mas sem exageros, onde existem diversos cenários para sentir, para amar, para rir e para chorar.
Uma cidade do amor e do desamor.
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