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Juventude rebelde contra o nazismo (Filme: ‘Os meninos de São Petri’)

Dia Internacional da Juventude CartazO Dia Internacional da Juventude comemora-se no dia 12 de agosto de cada ano. O Dia Internacional da Juventude é dedicado exclusivamente à juventude, e pretende promover o respeito pelos direitos humanos, pela liberdade e pela solidariedade. Este dia surge como recomendação da Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude que se realizou em Lisboa de 8 a 12 de agosto de 1998. A Assembleia geral da ONU, em 1999, cria então, o Dia Internacional da Juventude. Todos os anos, várias atividades são realizadas para marcar esta data: atividades culturais e de lazer, eventos turísticos e descontos em diversos serviços e bens.

Embora várias organizações das diferentes cidades promovam este dia, é muito bom que os pais o façam também com os seus filhos e os docentes com os seus alunos. Deve promover-se o diálogo sobre diversos temas pertinentes para esta faixa etária, e fazer atividades especiais artísticas, educativas e lúdicas.

O jovem brasileiro Taciano Lima escreveu no seu dia um acertado depoimento sobre o papel que deve ter a juventude na sociedade atual, que, pelo seu interesse e acerto, tenho a bem reproduzir: “Juventude, Qual o papel do jovem na sociedade? Alguns dizem que o jovem tem por obrigação que estudar e se formar para ser um bom trabalhador e procurar um caminho para suas vitórias pessoais. Outros acham que o papel da juventude extravasa essa maneira tão personalista de pensar e deve ser o de se mobilizar cada vez mais em defesa de seus direitos.

Dia Internacional da Juventude Cartaz06Se observarmos bem nossa história, veremos que em todos os rompantes de democracia, de defesa de direitos ou de conquista dos mesmos a juventude esteve presente na vanguarda social. Seja com Castro Alves na abolição da escravatura, ou com os Caras-Pintadas no Fora Collor, a juventude brasileira sempre contribuiu para a vida social do país, mobilizando-se, discutindo, incitando revoltas, etc.

Por conta dessa força, é comum vermos os meios de comunicação forçando uma visão incoerente de que “naquele tempo a juventude se mobilizava, mas hoje não se mobiliza mais”. Será que esse discurso é verdadeiro? Se aplica na prática? Acho que não e basta vermos as jornadas de luitas do movimento estudantil, ou suas bienais de cultura e arte, para vermos que a juventude não só permanece organizada, como consegue hoje se organizar sob novas formas, o que ajuda a uni-la ainda mais.

Mesmo sem ter seus direitos respeitados, a juventude sempre está disposta a dar opinião, a se mobilizar. Um caso recente mostra isso claramente: Depois do crime cometido com a participação de menores em que uma criança foi arrastada por um carro pelas ruas do Rio de Janeiro, setores mais conservadores da política nacional decidiram reviver a discussão da redução da maioridade penal. Em que deu? A juventude organizada se declarou contra e a proposta foi rejeitada. Como um movimento morto pode vencer até mesmo o que já era dado como aprovado pela opinião pública?

Mas se a batalha foi vencida, não significa que a guerra tenha assegurado o mesmo resultado. É preciso pôr a juventude em movimento cada vez mais e é preciso rediscutir as formas de fazer isso. É preciso mais políticas que incentivem a participação do jovem na sociedade e que permita revelar os talentos da juventude, como política de Estado e não apenas de Governo”.

O filme que esta vez escolhi para ilustrar o depoimento apresenta a luita de uns jovens dinamarqueses contra a invasão nazi de seu país, dando uma lição aos adultos da nação dinamarquesa, indiferentes e apáticos num principio por este facto contrário à sua liberdade, à sua independência e soberania. Sob o título de Os meninos de S. Petri, foi realizado em 1991 pelo realizador Søren Kragh-Jacobsen.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Os Meninos de S Petri CartazTítulo original: Drengene fra Sankt Petri (Os meninos de S. Petri).
  • Diretor: Søren Kragh-Jacobsen (Dinamarca, 1991, 111 min., cor).
  • Roteiro: Søren Kragh-Jacobsen e Bjarne Reuter.
  • Música: Jacob Groth. Fotografia: Dan Laustsen.
  • Atores: Tomas Villum Jensen, Morten Buch Jørgensen, Nikolaj Lie Kaas, Christian Grønvall, Karl Bille, Søren Hytholm Jensen, Joachim Knop, Xenia Lach-Nielsen e Philip Zandén.
  • Argumento: Durante a Segunda Guerra Mundial, com a Dinamarca ocupada pelos nazistas, um grupo de amigos estudantes decide formar um gangue para fazer resistência aos intrusos alemães. No começo, no entanto, tudo parece uma brincadeira e as atividades do grupo de jovens se resume a espalhar cartazes provocativos pelas ruas e a roubar os capacetes dos soldados. Isso até que a gangue ganha um novo membro, Otto Hvidmann, que afirma saber como empunhar uma arma. É a partir disso que a ação dos garotos se torna mortalmente perigosa.

O EXEMPLO DE UNS JOVENS ANTI-NAZISTAS:

A história começa na Dinamarca, no verão de 1942. Os irmãos Lars e Gunnar Baltrup, são dous jovens de família acomodada que, junto a outros companheiros de estudos da escola de São Petri, formam um grupo de resistência juvenil que realiza atos contra as tropas de ocupação, que num princípio só chegam à categoria de falcatruadas. Embora, as cousas se complicam quando Lars conhece a Otto Hvidmann, um jovem de origem humilde que se une ao grupo, proporcionando-lhes armas roubadas aos alemães. Isto fará que a partir de esse momento, o grupo empreenda autênticas missões de sabotagem, aumentando consideravelmente o perigo das suas atividades. Com este filme o realizador dinamarquês Søren Kragh-Jacobsen adaptou para as telas do cinema a história real dum pequeno grupo juvenil de resistência formado por estudantes da escola de São Petri, cujas atividades de sabotagem no verão de 1942 e posterior encarceramento no cárcere de Aalborg, despertaram a consciência da sociedade dinamarquesa, que até esse momento tinha aceitado sem discussão a ocupação alemã. Sobre esta base, Kragh-Jacobsen constrói um interessante relato sobre uns moços inconformistas e idealistas, que reuniram enorme valor para se rebelarem, não só frente à ocupação e a humilhação da sua pátria, senão também frente à desídia de seus maiores, que aceitaram sem protestos o novo status quo. Nesse senso, a história combina os elementos típicos do cinema sobre a resistência, com outros próprios do cinema sobre a rebeldia juvenil, e em esse aspeto aprecia-se claramente a influência dum filme como O Clube dos Poetas Mortos, especialmente patente na parte dedicada ao emotivo desenlace da história.

Fotograma do filme
Fotograma do filme

Para além do anterior, o filme tem vários aspetos bastante estimavéis, começando pelas boas interpretações do jovem elenco de atores protagonistas, que sabem dotar de grande naturalidade os seus respetivos papeis. Também é importante a agilidade da narração, e a esmerado aspeto visual do filme, que inclui um notável labor de ambientação e uma elegante fotografia que logra trasladar o espetador à época que se retrata no ecrã. Entre os aspetos menos brilhantes, principalmente cumpre assinalar que o filme não chega a aprofundar no aspeto pessoal dos protagonistas, nem nas motivações que os levam para atuarem como o fazem. No seu lugar, a história prefere centrar-se em descrever as ações de sabotagem que realizam os jovens, embora sem dar um maior transfundo humano às mesmas. Por esta razão, o desenvolvimento das personagens resulta demasiado esquemático e insuficiente. Uma pena, porque de ter-se cuidado mais esse aspeto do roteiro, estaríamos perante um grande filme. A pesares de isto, há que reconhecer que este filme é uma mais que digna produção escandinava sobre o tema da resistência, neste caso juvenil, e oferece um relato bastante agradável de seguir pelo espetador. Um filme não redondo de tudo, mas sim bastante estimável e de boa fatura tanto formal como visual e muito recomendável para ser olhado.

SEM JUVENTUDE NÃO HÁ FUTURO:

Pelo seu grande interesse, apresento a seguir os treitos de uma entrevista que lhe realizaram no seu dia ao educador brasileiro Jorge Bora, coordenador do Centro de Capacitação da Juventude, de São Paulo.

A juventude e o futuro:

A juventude é de fundamental importância para qualquer país, para qualquer organização. Não que a juventude tenha grandes experiências, mas a juventude é o grupo que renova, que questiona; é a juventude que capta as mudanças com mais facilidade. Estas mudanças que estão acontecendo na cultura, na sociedade. Qualquer país que não invista na juventude, não tem futuro. E o grande problema que eu vejo no mundo, no Brasil, na América Latina, por exemplo, é que não se investe na educação da juventude. Não há futuro para as instituições, se também não investem na juventude. Então, para dar resposta a novos tempos, novas épocas, a juventude é futuro. Eu vejo, hoje em dia, uma juventude muito sofrida, mais do que em qualquer outra época. As famílias estão cada vez mais complicadas. Eu vejo nas periferias das grandes cidades a juventude com muitas cicatrizes emocionais, uma juventude muito controlada pela mídia. Toda a questão da sociedade de consumo, uma juventude diferente do que outras épocas. Por exemplo, tivemos nos anos 60 uma juventude revolucionária, uma juventude com vontade de construir uma sociedade nova, luitando por justiça, pelos oprimidos. Nos anos 80, a mesma cousa: uma juventude com uma consciência social. Hoje em dia você tem uma juventude mais voltada para os seus problemas pessoais. Em parte, por causa da mudança social, cultural. Mas, ao mesmo tempo, a juventude tem uma característica que a diferencia dos adultos, por exemplo, a juventude muda com muita facilidade. Então, com uma boa metodologia você consegue penetrar a casca do individualismo que está tão forte hoje em dia, e despertar a chama de idealismo que está dentro de todo o jovem.

O jovem de hoje fica à espera:

Essa é uma grande diferença de gerações anteriores. Se tem uma juventude frequentemente que não tem sonhos, que vive muito o presente, quer ter sensações fortes, onde o importante são os sentimentos. Não toda a juventude. Mesmo hoje em dia, nas instituições e nos movimentos sociais o setor jovem é muito forte. Mas quando o jovem olha para a frente, a questão do emprego, de segurança, de ter uma vida digna, não é fácil. Por isso, eu vejo que a grande questão é a esperança. Se você não tem esperança, você se entrega, paralisa. E o desafio nosso é devolver aos jovens a esperança, ajudá-los a sonhar de novo. Agora, o jovem aprende a sonhar, a ter esperança, a ser uma força de transformação, de renovação, na medida em que ele vai se engajando em grupos, comunidades.

Problemas e buscas de saída:

Com a globalização há muita cousa em comum: as características da juventude são muito parecidas, nesta questão do presente, das sensações, de absolutizar o prazer como bem maior, toda a questão de viver no presente, é uma questão universal, uma mudança universal. Está muito mais acentuada aqui na América Latina, porque as contradições sociais são muito fortes. É muito mais difícil você sonhar num país de Terceiro Mundo, quando você não consegue emprego, um salário digno. Mas as cousas estão mudando. A juventude começa a acordar de novo. Você vê, por exemplo, nas últimas reuniões do Banco Mundial, protestos contra o projeto neoliberal que coloca o mercado no centro, não a pessoa humana, e onde se condenam países inteiros à morte. Um fato novo, agora, através da Internet, todas as organizações se articulam e têm um impacto forte em nível mundial. Então, há mudança. Havia muito mais pessimismo no passado. Há um autor chamado Schumacker que escreveu um livro muito conhecido, Small is beatiful (“Pequeno é Bonito”), e ele diz: “se na sociedade de hoje nós estamos passando por um momento de voltar para o privado, egoísmo, isto é uma cousa que vai mudando. Depois nós vamos mudar culturalmente, os ventos vão mudando para projetos mais coletivos, sociais e nós temos que estar sempre com as velas levantadas para que, quando os ventos mudem, a gente logo saiba”. E eu acho que essas velas já começaram a levantar, os ventos já começaram a mudar.

O futuro dos jovens em relação ao trabalho e à educação:

Eu acho que a humanidade não vai aceitar isso, um projeto onde o trabalho não faz parte da dignidade da pessoa humana. É impossível, inviável uma sociedade sem o trabalho. Há um livro com o título A armadilha da Globalização. Ele fala que numa reunião de dirigentes de multinacionais nos anos 80 chegaram à conclusão de que seriam necessários somente 20% da atual força de trabalho para tocar a economia. Quer dizer que 80% ficam sobrando. O ser humano não aceita isso. Isso vai mudar. Isso tem que mudar. O espírito de liberdade do ser humano não permite que se imponha assim um projeto ao ser humano. Como em outras épocas o ser humano mudou cousas; a história da conquista dos direitos humanos, dos direitos da mulher, da democracia. Um projeto social bom, mas sem a liberdade. Chega um momento em que você não consegue segurar com a força. O espírito humano é mais forte. Boa parte do futuro está na educação. Não há projeto social, político, económico, num país sem investimento em educação. No Brasil uma das causas do desemprego é a baixa escolaridade, a falta de capacitação técnica. O nível das escolas públicas é tão baixo, por exemplo, que a pessoa não consegue preparar-se o suficiente. A educação é a base. Você dá uma educação com qualidade para a juventude e a juventude levanta o país. Uma educação que devolva a esperança aos jovens, que traga maior qualidade de vida e que dê respostas ao sentido mais profundo do ser humano.

Devemos ter esperança na juventude:

Eu tenho esperança na juventude porque eu trabalho com a juventude e vejo como a juventude que, num primeiro momento, está muito voltada para os seus interesses, que não está interessada no projeto do voluntariado, do serviço aos outros, de construir uma sociedade melhor, mas, num segundo momento, quando você oferece a essa juventude condições de sair do seu mundo limitado, ela responde. E eu vejo muita esperança nas organizações que trabalham com a juventude, que estão despertando a juventude. O segredo é como chegar, a metodologia. Você não pode estar com a cabeça de dez anos atrás. Não dá para chegar com discursos. Você tem que acolher. São vários elementos: a cultura pós-moderna, a questão pessoal, espaço para encontrar-se consigo mesmo, relações humanas, não ficar só no intelectual; você tem uma juventude que valoriza muito o simbolismo, o emotivo, a expressão corporal. Com a juventude tem que usar uma metodologia, uma estratégia que inclui muito a questão de projetos concretos, viáveis, que dão resultado, para criar uma motivação para o seu processo de crescimento. Uma das cousas que me assusta muito é a fuga dos adultos. Eu trabalho com juventude há 30 anos e eu nunca vi uma crise tão profunda em que os adultos não querem trabalhar com os jovens. E isso preocupa porque a juventude necessita da presença de adultos, pessoas que tenham uma experiência maior de vida, que vão servir de modelos, pessoas que podem oferecer acolhida, carinho, que o jovem não encontra em outros espaços na sociedade. Porque os jovens não vão ficar eternamente jovens. Um dia, serão adultos. Eu vejo a importância do esforço de algumas entidades que trabalham um espaço para os jovens, os grupos em que eles controlam a sua própria organização, que trabalham em cima de princípios, como o protagonismo dos jovens. Não tratam o jovem como criança, como irresponsável. Colocam ele no comando, de protagonista do seu próprio processo de educação e do crescimento grupal. Nisso tudo é importante apresentar pessoas que pela sua conduta positiva na vida e na história o mereçam como modelos. Os jovens necessitam de modelos. Os meios de comunicação, por outro lado, apresentam ídolos, para vender cousas, e estão a fazer um grande dano.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contra-planos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, etc.) e o fundo do filme antes resenhado.

De comum acordo entre os estudantes e os docentes do nosso estabelecimento de ensino, depois de um oportuno debate-papo, montamos uma exposição com textos, lendas, desenhos, fotos, murais, etc., elaborados pelos estudantes, sobre o que a comunidade educativa do centro pensa que deveria incluir-se num projeto formativo para os jovens, que teria que acrescentar um importante apartado de propostas e sugestões práticas para lograr no país emprego para as jovens, e luitar contra o desemprego juvenil, verdadeira lacra atual, pela que os nossos jovens vêm-se obrigados a emigrar.

Depois de entre todos escolher um livro para ler, organizamos sobre o mesmo um Livro-fórum. Entre os livros que podemos encontrar para ler na nossa língua e logo escolher para a sua leitura, temos os seguintes: Capitães da areia, de Jorge Amado; O futuro em aberto, de Maria Manuel Vieira; Sexualidades e afectos juvenis, de José Machado Pais; Jovens e rumos, de Vitor Sérgio Ferreira e René Bendit; Capital social e jovens originários dos PALOP em Portugal, de Marzia Grassi; Escola, jovens e média, de Maria Manuel Vieira; O associativismo juvenil e a cidadania política, de Pedro M. Ferreira; Culturas juvenis, de José Machado Pais.

 

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