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Como fai o judoca. Aprenda a fazer um nó suevo

Nos finais do século VI da nossa era chegava ao Reino Suevo da Galiza um sacerdote chamado Martinho. A missom que trazia era voltar a atrair os habitantes da nossa terra à ortodoxia católica, abandonada oficialmente por influência do ariano poder visigodo e questionada popularmente pola persistência da heresia priscilianista, e já de passagem conseguir que a monarquia galega se unisse à entente antivisigoda que integravam o Reino Franco e o Império Romano de Oriente.

Martinho cumpriu ambas missons com notável sucesso e mesmo acabou por se converter numha das mais importantes figuras do reino e mesmo de toda a cristandade. Precetor do herdeiro, conselheiro do rei, fundador de mosteiros, reformador de costumes… muitos som os qualificativos que se lhe podem dedicar. Mas o certo é que, fora de círculos reduzidos, a figura de quem passaria ao santoral católico como Sam Martinho de Dume é pouco conhecida.

Curiosamente, noutro país existiu um outro sacerdote cuja história vital é sumamente semelhante à do nosso Martinho. Um predicador que foi quem de estender o cristianismo numha terra adversa, a priori, e que acabou por se converter num referente cultural, no sentido mais amplo do termo, para todo um povo. Mas até aqui chega o paralelismo já que, ao contrário do que acontece no caso de Martinho de Dume, este predicador do século V nom foi esquecido senom que se converteu numha das figuras mais conhecidas da naçom que evangelizou. Estamos a falar, como teredes deduzido, de Sam Patrício da Irlanda.

A pegada de Martinho e Patrício foi nefasta para a conservaçom de muitas práticas culturais e religiosas que ambos sacerdotes perseguírom por considerá-las contrárias ao dogma católico, porém nom podemos esquecer que essa perseguiçom foi um elemento chave na conformaçom de muitos outros elementos ainda hoje presentes nas nossas respetivas culturas nacionais.

Além do notável sucesso na perpetuaçom da memória de Patrício entre o povo irlandês, quijo a história que a celebraçom do Sam Patrício passasse a ter nas últimas décadas umha dimensom internacional. Nom é difícil entender o porquê.

A nutrida colónia de emigrantes procedentes da Irlanda nos USA conseguiu estender o que até há bem pouco tempo, em termos históricos, era umha festa apenas celebrada na velha Eire e conseguir que fosse assumida como umha das celebraçons próprias da cultura norteamericana. Só fijo falta que a hegemonia cultural da potência global fosse mais forte para que por todo o mundo, Galiza também, começasse a se celebrar o Sam Patrício.

Perante este panorama há quem defenda umha resistência rígida. Nom ceder nem um passo às imposiçons culturais do império e fazer umha defesa absoluta das nossas mais enxebres tradiçons.

Esta postura apresenta, a nosso entender, algum problema. O fundamental é o de conceber a tradiçom como algo inamovível, o que em si mesmo é um erro absoluto. As tradiçons som dinámicas e flexíveis, adaptam-se às mudanças que sofrem os povos que as criam. Pretender conservar imutáveis os nossos velhos costumes é umha tarefa absolutamente impossível além de inútil.

Para além disto, nom podemos ser tam inocentes como para ignorarmos o brutal poder da cultura hegemónica e contentar-nos com conservar pequenos núcleos de ativistas conscientes, militantes dumha cultura moribunda e perfeitamente idêntica a si mesma, enquanto a maioria do nosso povo adopta novos usos e costumes.

Entra em jogo aqui umha nova estratégia que a Gentalha do Pichel, junto a outras associaçons e núcleos defensores da cultura galega, temos utilizado nos últimos anos.

Trata-se de aproveitar o facto inegável de os alicerces básicos de muitas das nossas tradiçons serem comuns ao conjunto de culturas do ocidente europeu. Tradiçons e festas associadas que hoje chegam da mao da cultura norteamericana com roupas coma as do Halloween ou do Pai Natal mas que, como temos demonstrado nos últimos anos, podem ser inteligentemente travestidas com os fatos do Samaim ou do Apalpador, uns fatos feitos com as teias tecidas pola nossa história mas com um corte e desenho dos nossos tempos.

Assim, como fai o judoca, aproveitamos o impulso do ataque da nossa adversária, que pretende substituir a nossa memória e tradiçom, para devolvermos o golpe e reforçar os traços singulares da nossa cultura. Umha cultura que continua a beber da nossa história mas que sabe adaptar-se a umha realidade em permanente mutaçom.

É por isso que animamos a aproveitar a proximidade temporal entre as festividades de Sam Patrício e Sam Martinho de Dume, 17 e 20 de março respetivamente, para fazer umha jornada de celebraçom da memória da nossa herança sueva, reforçar os laços que unem aos povos atlánticos da Europa e porque nunca é tarde para continuarmos a criar tradiçons.

 

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