Celebrar o Dia Internacional da Amizade (filmes: ‘Um sonho de liberdade’, ‘Os brutos também amam’, ‘Rio sem regresso’ e ‘O menino do pijama listrado’

“Uma verdadeira amizade é como a fosforescência, resplandece melhor quando tudo escureceu”. É este um famoso e formoso aforismo escrito por Robindronath Tagore que pode sensibilizar-nos sobre o Dia Internacional da Amizade, o qual é comemorado anualmente em 30 de julho. O Dia da Amizade tem o objetivo de promover a cultura de paz entre todos os povos, celebrando assim a diversidade cultural e respeito. Nesta data, os amigos costumam trocar mensagens de carinho, afeto e agradecer todo o companheirismo e dedicação. No Brasil, a amizade é homenageada e colocada em pauta em muitos dias. Os brasileiros celebram o Dia do Amigo em 18 de abril, em caráter não oficial, e em 20 de julho o Dia do Amigo e Internacional da Amizade, a partir de uma iniciativa da Argentina.

Origem do Dia Internacional da Amizade

O Dia Internacional da Amizade foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, reconhecendo que a amizade é importante na propagação da cultura e paz sobre a violência. A ideia para a criação desta data foi o médico paraguaio Ramón Artemio Bracho, que fundou a Cruzada Mundial da Amizade, um programa que promovia a boa convivência entre os diversos povos. Em 27 de abril de 2011, durante a sexagésima quinta sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, dentro do tratamento da cultura da paz, reconheceu-se a pertinência e a importância da amizade como sentimento nobre e valioso na vida dos seres humanos de todo o mundo e decidiu-se designar 30 de julho como Dia Internacional da Amizade, em concordância com a proposta original promovida pela Cruzada Mundial anteriormente citada. A iniciativa foi apresentada conjuntamente por 43 países (incluindo o Brasil e quase todos os países sul-americanos), e foi aceite unanimemente pela Assembleia Geral.

Durante o século XXI, foram criadas várias iniciativas para a celebração de um Dia da Amizade em distintas partes do Mundo. Nos Estados Unidos e em partes da Ásia divulgou-se o primeiro domingo de agosto como o dia de entrega de cartões e presentes entre amigos, e celebrações similares se formaram em distintos países da América do Sul e Europa em diferentes datas. A iniciativa para o estabelecimento de um Dia do Amigo reconhecido internacionalmente teve como antecedente histórico a já citada Cruzada Mundial da Amizade, que foi uma campanha em favor da valorização e realce da amizade entre os seres humanos, de forma a fomentar a cultura da paz. Foi idealizada pelo médico Ramón Artemio Bracho em Puerto Pinasco, Paraguai em 1958. A partir desta ideia, foi fixado 30 de julho como Dia da Amizade. Na Argentina, a data foi criada pelo médico Enrique Ernesto Febbraro. Com a chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1969, ele enviou cerca de quatro mil cartas para diversos países e idiomas com o intuito de instituir o Dia do Amigo. Febbraro considerava a chegada do homem à Lua “um facto que demonstra que se o homem se unir com seus semelhantes, não há objetivos impossíveis”.

O brasileiro Bruno Rafael da Cunha escreveu sobre o valor da amizade um belo e pequeno depoimento, que gosto de reproduzir aqui, pois comenta-se por si só positivamente:

“Feliz aquele que compreende o valor da amizade. É nela que encontra-se uma parte da vida, uma franquia da felicidade e um empréstimo, sem cobranças, de sinceridade, respeito e reciprocidade. Feliz aquele que conquista o próximo com o olhar. De transmitir seus sentimentos em um sorriso, de apaziguar a discórdia com as palavras, de ouvir, falar e acolher com paciência e humildade. Feliz aquele que possui um amigo. É com ele que aprende-se o real significado da vida. Aprende-se a ser e transmitir, a conquistar e caminhar, e acima de tudo, aprende-se a sonhar. Dignos da felicidade são aqueles que conquistam a amizade. É encontrada na jornada da que todos percorrem. Preserve-a sob seus braços. Inestimável é seu valor. Feliz aquele que regenera seus dias com a presença de um amigo. Possui segurança na tormenta, conselho na incerteza, admiração na simplicidade. E sempre, por maior que seja o tempo, conta com a presença daquele que tanto respeita e tem a honra de chamar de amigo”.

Na filmografia mundial existem bastantes filmes onde o tema da amizade é muito importante. Para mim, um dos filmes emque se apresenta de forma maravilhosa o tema é em Cinema Paradiso, ao qual em seu dia dediquei um depoimento da série. Para o presente escolhi quatro filmes diferentes, realizados em épocas distintas, nos quais, além de outros, o tema da “amizade” está bem destacado, conseguindo a emoção dos espetadores ao olhá-los.

FICHA TÉCNICA DOS 4 FILMES:

1.-Título original: The Shawshank Redemption (Um sonho de liberdade / Prisão perpétua).

• Diretor: Frank Darabont (EUA, 1994, 142 min., cor).
• Roteiro: Frank Darabont, segundo o relato de Stephen King.
• Música: Thomas Newman. Fotografia: Roger Deakins.
• Produtoras: Columbia Pictures e Castle Rock Entertainment.
• Prémios: Todos em 1994. 7 nomeações para o Óscar, incluindo melhor filme e ator para Freeman. 2 momeações ao Globos de Ouro, para o melhor ator e melhor roteiro.
• Nota: Para olhar entrar no Youtube.
• Atores: Tim Robbins (Andy Dufresne), Morgan Freeman (Red), Bob Gunton (Warden Norton), William Sadler (Heywood), Clancy Brown (Capitão Hadley), Gil Bellows (Tommy), James Whitmore (Brooks Hatlen), Mark Rolston (Boggs Diamond), Rita Hayworth (Aparição no cinema).
• Argumento: Em 1946, Andy Dufresne, um jovem e bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao ser condenado por um crime que nunca cometeu: o homicídio de sua esposa e do amante dela. Ele é mandado para uma prisão que é o pesadelo de qualquer detento, a Penitenciária Estadual de Shawshank, no Maine. Lá, ele irá cumprir a pena perpétua. Andy logo será apresentado ao Warden Norton, o corrupto e cruel agente penitenciário, que usa a Bíblia como arma de controle; e ao Capitão Byron Hadley, que trata os internos como animais. Andy faz amizade com Ellis Boyd Redding, um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro da instituição.

2.-Título original: Shane (Os brutos também amam / Raízes profundas).

• Diretor: George Stevens (EUA, 1953, 118 min., cor).
• Roteiro: A.B. Guthrie, Segundo a história de Jack Schaefer.
• Música: Victor Young. Fotografia: Loyal Griggs.
• Produtora: Paramount Pictures.
• Prémios: Todos em 1953. Óscar à melhor fotografía a cor e 6 nomeações, incluido melhor filme e diretor. Nomeação ao melhor filme e ator estrangeiro nos prémios BAFTA do Reino Unido.
• Nota: Para olhar entrar no Youtube.
• Atores: Alan Ladd (Shane), Jean Arthur (Marian), Van Heflin (Joe Starret), Brandon De Wilde (Joey), Jack Palance (Jack Wilson), Elisha Cook, Jr. (Frank ‘Stonewall’ Torrey), Ben Johnson (Chris Calloway), Edgar Buchanan (Fred Lewis) e Emile Meyer (Rufus Ryker).
• Argumento: Um filho de humildes rancheiros passa a idolatrar o gentil e muito hábil pistoleiro Shane, com que estabelece uma profunda amizade. Ele, um forasteiro na cidade, ajuda o grupo de pequenos colonos a defenderem as suas terras de capangas a serviço de um barão e ladrão do gado.

3.-Título original: River of no Return (Rio sem regresso / Rio das almas perdidas).

• Diretor: Otto Preminger (EUA, 1954, 91 min., cor).
• Roteiro: Frank Fenton, baseado em uma história de Louis Lantz.
• Música: Cyril J. Mockridge. Fotografia: Joseph LaShelle.
• Produtora: 20th Century Fox.
• Nota: Para olhar entrar aqui.
• Atores: Robert Mitchum (Matt Calder), Douglas Spencer (Sam Benson), Marilyn Monroe (Kay Weston), Rory Calhoun (Harry Weston), Tommy Rettig (Mark Calder), Murvyn Vye (Dave Colby), Claire Andre (Surrey Driver), Don Beddoe (Ben) e John Doucette (Homem no saloon).
• Argumento: Em 1875, durante a corrida do ouro nos Estados Unidos, Matt Calder, um ex-presidiário que recentemente saiu da cadeia, reencontra Mark Calder, o seu jovem filho que nada sabe do seu passado. Com ele planeja estabelecer-se como fazendeiro. Algum tempo depois, os dois socorrem Kay Weston, uma cantora de saloon que conheciam, e Harry Westo, o seu namorado, quando tentavam atravessar um perigoso rio numa balsa. Mas Harry está tão ansioso em registrar uma concessão de ouro que ele diz que ganhou em um jogo que fere Matt, que o salvou, pois quer um cavalo e uma arma a qualquer custo. Kay fica então no rancho cuidando de Matt e Mark, enquanto Harry vai embora sozinho, mas prometendo voltar. Entretanto, os índios chegam no local e os três são obrigados a fugir por um rio com perigosas corredeiras. Mas o rancheiro está determinado em chegar ao seu destino para se vingar. A amizade entre o filho e seu pai encontrado é linda de verdade.

4.-Título original: The Boy in the Striped Pajamas (O menino do pijama listrado).

• Diretor: Mark Herman (Reino Unido-EUA, 2008, 94 min., cor).
• Roteiro: Mark Herman, segundo o romance homónimo de John Boyne.
• Música: James Horner. Fotografia: Benoît Delhomme.
• Produtoras: Heyday Films, BBC Films e Miramax Films.
• Nota: Para olhar entrar no Youtube.
• Prémios: Todos em 2008. Melhor Filme europeu, nos Goya. Melhor atriz e 3 nomeações nos British Independent Film Awards e prémio do público no Festival Internacional de Chicago.
• Atores: Asa Butterfield (Bruno), Zac Mattoon O’Brien (León), Domonkos Nemeth (Martin), Henry Kingsmill (Karl), Vera Farmiga (Elsa, a mãe), Cara Horgan (Maria), Amber Beattie (Gretel), David Thewlis (Ralf, o pai), Richard Johnson (Matthias, avô), Sheila Hancock (Nathalie, Vovó), Rupert Friend (Tenente Kotler ), David Hayman (Pavel), Jim Norton (Herr Liszt), Jack Scanlon (Shmuel) e o Narrador.
• Argumento: Alemanha, Segunda Guerra Mundial. O menino Bruno, de 8 anos, é filho de um oficial nazista que assume um cargo importante em um campo de concentração. Sem saber realmente o que seu pai faz, ele deixa Berlim e muda-se com ele e a mãe para uma área isolada, onde não há muito o que fazer para uma criança com a idade dele. Os problemas começam quando ele decide explorar o local e acaba conhecendo Shmuel, um garoto de idade parecida, que vive usando um pijama listrado e está sempre do outro lado de uma cerca eletrificada. A amizade cresce entre os dois e Bruno passa, cada vez mais, a visitá-lo, tornando essa relação mais perigosa do que eles imaginam.

PEQUENOS COMENTÁRIOS SOBRE OS 4 FILMES:

Se existe um tema recorrente e sempre importante no cinema é a amizade, e quando ele é bem realizado, é impossível não se envolver e emocionar-se. Um Sonho de Liberdade é um exemplo de um dos melhores filmes sobre o tema. A trama é muito simples e possui reviravoltas surpreendentes nos momentos certos. Com momentos marcantes, extremamente bem atuado e muito bem conduzido, Um Sonho de Liberdade é um dos pontos altos do cinema, não apenas nos anos 90, mas em todos os tempos. Além de ótimas atuações (Tim Robbins e Morgan Freeman estão incríveis) e um desfecho perfeito e imprevisível, o filme também não deixa de ensinar reflexões ao espetador. Frank Darabont consegue fazer uma das melhores adaptações de Stephen King, junto com À Espera de um Milagre, também de Darabont. Mas a questão é que neste filme, temos uma incrível jornada de redenção e superação. Um Sonho de Liberdade é um drama impecável. (Henrique Klein).

Raízes profundas é um filme precioso, ele todo, um libelo humanista, uma declaração de fé na capacidade do homem de fazer o bem e uma defesa inegável da paz e um grito antibelicista. Mas veja, esse filme é também uma alegoria da Segunda Guerra, da qual o diretor George Stevens participou, encarando os seus horrores de frente.(…) Infelizmente, durante a história humana, a nossa espécie sempre partiu para a guerra, para a agressão, para o extermínio do outro, do diferente, em vez de tentar compreendê-lo, aceitá-lo e ajudá-lo. Por outro lado, o outro, ao tomarmo-nos também como “o outro”, muitas vezes recusa-se também a aceitar, a tolerar. Aí, neste impasse, na divergência, temos a guerra, o conflito. Dizem que quando um não quer, dois não brigam. Bom, pode até ser que eles não briguem, mas para que um mate o outro, basta que um queira. A vida, enfim é cruel e nada democrática. A amizade do rapaz com o homem que ajuda os fazendeiros, magnificamente interpretado por Alan Ladd, é realmente sublime. (Leandro Andrade).

O filme Rio das almas perdidas é maravilhoso, mágico e cheio de aventura! Marilyn linda como sempre, cantando e atuando. Um elenco rico, sem falar no grande mestre Robert Mitchum, que mantém uma linda amizade com o seu filho que agora volta a encontrar. (Tyrone Santos). Um filme simples, com frequência encantador, e belamente fotografado abençoado com ótimas atuações e grande trabalho de equipa de Robert Mitchum e Marilyn Monroe e uma agradável e envolvente faroestezinho, que nunca deixa de entreter. (TV Guide). A concorrência entre os esplendores cênicos dos Parques Nacionais Jasper e Banff e os valores do entretenimento encontra o primeiro terminando ligeiramente à frente em mérito, embora haja ação e momentos de suspense suficientes para fazer a produção terminar as filmagens. Entre os pontos altos, o ritmo de direção de Otto Preminger tende a ser lento, por isso o tempo de duração parece um pouco longo. (Revista Variety).

Olhando O menino do pijama listrado, a minha esposa chorou até desidratar; eu tentei segurar, mas acabei chorando também. Não há nada de leve, é só a dura realidade transfigurada numa visão pouco esclarecida de um menino de 8 anos. Ele não entende, ele não sabe. Mas nós sim. Nós entendemos e é isso que mais dói, dá para sentir a ingenuidade do menino de olhos azuis e do menino judeu na carne, como uma ferida dolorosa… Cada pergunta infantil (da qual sabemos a resposta) faz doer, faz querer dar um jeito de que aquilo não fosse verdade, que fosse um pesadelo ou ficção… é forte, triste e impressionante. Uma parte da história da humanidade. O filme é um ensino imperecedoiro. Vai ser difícil esquecer a expressão do menino judeu. A inocência nos olhos azuis do menino alemão. A dor nos passos pesados de velho Pavel. A dor de uma raça inteira. (Wagner).

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinemaforum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica) e o fundo dos filmes anteriormente resenhados, realizados respetivamente por Frank Darabont, George Stevens, Otto Preminger e Mark Herman.

Fazemos a oportuna tradução à nossa língua do poema-canção de Alberto Cortez “Quando um amigo se vai”, e logo aprendemos a mesma e a cantamos. Organizamos um ciclo de cinema com filmes que têm como tema principal a amizade. Pode estar configurado pelos 4 filmes antes mencionados, junto com o de Cinema Paradiso e também o de Forja de homens, sobre a Cidade dos rapazes do Padre Flanagan. Organizamos nos estabelecimentos de ensino uma amostra sobre o tema da “amizade”, com textos livres dos estudantes, aforismos, fotos, poemas, cartazes, murais e outros recursos.

Organizamos um debate-papo entre todos (estudantes e docentes) sobre o que nos sugerem os aforismos selecionados do livro de Tagore Pássaros perdidos, que fora traduzido pelo poeta brasileiro Abgar Renault em 1946. A antologia que escolhi contem os seguintes aforismos:

• Sonhámos uma vez que não nos conhecíamos, e despertámos para ver se era verdade que nos amávamos.
• Não deixes o teu amor sobre o precipício.
• Procura-te, formosura, no amor, não na lisonja do teu espelho.
• O meu coração abre as suas ondas na orla do mundo e nela deixa escrito com lágrimas: “Amo-te”.
• A riqueza da vida está nos títulos do mundo; o seu preço, nos títulos do amor.
• O benfeitor chama à porta, mas aquele que ama encontra-a aberta de par em par.
• “Estás muito longe de mim, ó fruto?” – “Estou no teu coração, flor”.
• Não insultes o teu amigo com méritos inventados por ti.
• Quando ouço as ondas desta praia, Amigo, sinto o silêncio do teu fundo pensamento naqueles anoiteceres sem fim.
• Com a manhã, abriu o mundo o seu coração de luz. Vai, coração meu, em procura dele, com o teu amor!
• Amor, quando a tua mão traz, roxa, a lâmpada da dor, como vejo bem o teu rosto e como compreendo que és a felicidade!
• Mergulhei o cálice do meu coração nesta hora de paz e ergui-o cheio de amor.
• Vivemos no mundo, quando o amamos.
• O amor é a vida cheia, como de vinho uma taça.
• Apaga a tua lâmpada, se quiseres. Eu conhecerei a tua escuridade e amarei-a.
• Não podemos aceitar como verdade que o amor, às vezes, se torne menor.
• A verdadeira amizade é como a fosforescência: resplandece melhor quando tudo escureceu.