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Celebrar nas escolas a Semana do Desarmamento, com o filme ‘Quando o Vento Sopra’

Desarmamento e Paz CartazPara organizar atividades didático-culturais nas aulas dos diferentes níveis do ensino, e comemorar assim a Semana Internacional do Desarmamento, que se costuma celebrar cada ano entre 24 e 30 de outubro, por proposta da ONU, tal como anunciei no meu anterior depoimento, dedico a este importante tema dous artigos, tomando como base os filmes A Voz do Silêncio e Quando o Vento Sopra, este em desenhos animados.

Os temas do desarmamento nuclear e da não-proliferação ganharam novo impulso na agenda internacional, com a maior ênfase dada ao desarmamento nuclear, que se refletiu, em particular, na celebração, em 2010, do novo tratado START entre os Estados Unidos da América e a Federação da Rússia para a redução de armamentos estratégicos e a declarada disposição do novo governo norte-americano de buscar a ratificação do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT). Também contribuiu para esse quadro o êxito da VIII Conferência de Exame do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), realizada em maio de 2010, que conseguiu aprovar um Plano de Ação com medidas concretas a serem empreendidas pelos Estados Partes nos três principais eixos temáticos do Tratado (desarmamento, não-proliferação e usos pacíficos da energia nuclear).

Apesar dos sinais de compromisso renovado com o desarmamento nuclear, ainda há muito a ser feito. Mais de quarenta anos após a entrada em vigor do TNP e vinte anos após o fim do conflito Leste-Oeste, a continuidade da existência de numerosos arsenais nucleares e o risco de sua proliferação mantêm viva a possibilidade de uso de tais armas, seja intencional, acidental ou por erro de cálculo, com consequências catastróficas para toda a humanidade. Essa possibilidade apenas aumenta em função do surgimento de novos países dotados de armas nucleares e do eventual acesso à tecnologia nuclear explosiva por parte de agentes não-estatais, como os grupos terroristas. Na VI Conferência de Exame do TNP, em 2000, as cinco potências nucleares reconhecidas pelo tratado assumiram um compromisso inequívoco com a eliminação completa de seus arsenais atómicos. Aceitaram, igualmente, um programa com 13 passos concretos para alcançar esse objetivo. No entanto, pouco do que estava previsto naquele programa se cumpriu. As reduções numéricas de arsenais nucleares não significaram, de modo geral, a redução da proeminência dessas armas nas doutrinas estratégicas; manteve-se ou mesmo se ampliou a possibilidade de uso de armas nucleares em diversos cenários de guerra, inclusive contra armamentos convencionais; foram mantidas, em alguns casos, as instalações para a eventual retomada dos testes nucleares; numerosas armas continuam em estado de alerta máximo; e prosseguem vultosos investimentos na modernização das armas nucleares e de seus veículos de lançamento. Espera-se que tais desdobramentos possam ser revertidos o quanto antes, à luz dos compromissos assumidos ou reiterados na Conferência de Exame de 2010, de forma a assegurar a credibilidade e a futura sustentabilidade do regime internacional de não-proliferação e desarmamento nucleares.

É necessária uma participação ativa dos cidadãos e dos países nos principais foros relacionados ao desarmamento e à não-proliferação das armas de destruição em massa (nucleares, químicas e biológicas). A convicção de que o desarmamento e a não-proliferação são processos interdependentes e que se reforçam mutuamente tem balizado diversas posições. Desarmamento e não-proliferação são as duas faces de uma mesma moeda. Os países, por pressão de seus cidadãos, têm que buscar manter a prioridade do processo de desarmamento nuclear, frisando a necessidade de adoção de medidas concretas que traduzam o seu compromisso com a eliminação completa dessas armas, conforme as obrigações que as potências nucleares assumiram no âmbito do TNP. Os esforços internacionais nessa área devem culminar na proscrição completa, não-discriminatória e multilateralmente verificável das armas nucleares, a exemplo da Convenção para a Proibição das Armas Químicas (CPAQ), de 1993.

É importante a “Coalizão da Nova Agenda” (NAC), grupo de países que defende uma série de medidas práticas na área do desarmamento nuclear, que vão além da simples redução numérica dos arsenais. Temos todos que influir para conseguir uma ampla Zona Livre da Armas Nucleares no mundo, seguindo o modelo da criada na América Latina e Caraíbas pelo Tratado de Tlatelolco, em 1967.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Quando o vento sopra dvdTítulo original: When the Wind Blows (Quando o Vento Sopra).
  • Diretor: Jimmy T. Murakami (Reino Unido, 1986, 80 min., a cores, desenhos animados).
  • Roteiro (e história): Raymond Briggs, baseado no seu romance gráfico.
  • Música: Roger Waters, David Bowie, grupos Genesis e Squeeze.
  • Produtoras: Meltdown ProductionsBritish Screen ProductionsFilm Four International, TVC London, Penguin Books e BBC.
  • Atores (e intérpretes de vozes): David Dundas, James Russell, Matt Irving, Peggy Ashcroft (Hilda Bloggs, voz), Robin Houston (anunciante, voz) e Sir John Mills (Jim, voz).
  • Argumento: Jim e Hilda Bloggs são um casal de idosos da classe média britânica que, seguindo instruções dos panfletos governamentais, constroem um abrigo e estocam suprimentos para sobreviver a Terceira Guerra Mundial entre os Estados Unidos da América e os Soviéticos. Imaginando que a experiência da guerra seria como a da Segunda Guerra Mundial, da qual conseguiram sobreviver e receberam ajuda prontamente, eles veem-se confiantes de que fizeram o suficiente. Porém, a guerra agora é de armas nucleares e quando uma bomba é jogada perto de sua casa, a sua vida passa de pacífica a devastada e humilhada. Sem comunicação com o exterior e atingidos com os efeitos da radiação, eles terão que repensar suas atitudes.

 

UM FILME SOBRE O PERIGO DE UMA GUERRA ATÓMICA:

“Quando o vento sopra”, realizado por Jimmy T. Murakami em 1986, é um dos melhores filmes de animação. Desde a sua história até à sua simples, e ao mesmo tempo inocente, animação, todo o filme é genial. Passado numa Inglaterra rural, este filme conta-nos a história de um casal de idosos que se tenta preparar para a iminente queda de uma bomba nuclear, construindo um abrigo conforme as normas dos panfletos criados pelo Governo. Um filme sobre a inocência e a passagem dos tempos, onde um casal tenta sobreviver a algo que simplesmente não compreende, muito menos imaginar os danos que lhes irá causar. A própria ideia da radiação lhes passa ao lado, pensando que é apenas mais uma daquelas bombas utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial, e que se, palavras-chaves, o Governo diz que tudo ficará bem, é porque tudo ficará bem. Este deve ser dos filmes mais poderosos dos últimos tempos. É de uma crueldade tremenda e ao mesmo tempo apresenta-nos uma inocência e alegria que nunca estaríamos à espera. Ligamo-nos ao casal simpático de idosos e à sua crença que “tudo ficará bem”, e nós próprios pensamos que alguém os irá ajudar e que, se for preciso, nem caiu nada… mas como a legenda deste filme diz: “…Este não é um conto”. É um caminhar para a morte, nós sabemos que é inevitável, mas eles não sabem. Não percebem os sintomas da radiação, não percebem o que raio caiu no seu país e nem percebem que o abrigo que construíram nunca os poderia proteger da bomba mais mortífera construída pelo homem. Eles não sabem, o Governo nada diz e nós desesperamos ao ver o que lhes acontece. Duas personagens, sempre no mesmo espaço e 80 minutos de duração, fazem deste filme um dos filmes mais geniais com uma lição para todos os argumentistas do mundo cinematográfico. Amostra que a simplicidade consegue ser muito mais forte que uma história demasiado complicada, atos tão normais e ao mesmo tempo tão devastadores que nos afetam muito mais, deixando-nos a pensar sobre eles durante dias. A animação não chama muito a atenção, simples e eficaz, os desenhos contrastam com a história que contam, e os velhotes estão bem caraterizados pelas suas personalidades. A senhora como a mulher que confia no seu marido, e o marido como aquele que pensa ter tudo controlado, que confia no seu governo, mas que acaba por saber que tudo está mal, mas que quer proteger a sua mulher dessa verdade. A música é composta por nomes como Roger Waters (ex- Pink Floyd), David Bowie e ainda os Genesis, numa banda sonora esmagadora e satírica, principalmente no grandioso final, fazendo o filme muito mais poderoso, dramático e ao mesmo tempo com aquela inocência das personagens, transparecendo uma alegria muito mais triste do que aquilo que queríamos, porque nós sabemos o que lhes vai acontecer, mas eles não o sabem.

Há filmes que vimos há anos e anos que, de repente, regressam para nos assombrar. E “assombrar” é uma palavra adequada para definir Quando o vento sopra, de 1986, justamente considerado pelo American Film Institute como um dos melhores filmes de animação de sempre e que talvez seja o mais poderoso filme antinuclear da década da Guerra Fria. Estamos perante a obra-prima do animador Jimmy T. Murakami, feita a partir do livro do grande autor e ilustrador britânico Raymond Briggs e absolutamente fiel à estética ilusoriamente naif de Briggs. Os protagonistas de Quando o vento sopra são um pacato casal de velhotes do “countryside” inglês, habituados a uma pacatez campestre, à telefonia e ao chá das cinco, que, no dia em que acontece o Holocausto Nuclear, lidam com ele com a ingenuidade de quem ainda pensa que as guerras se combatem como antigamente. A história nunca sai do mundo deste casal, assistindo nós à catástrofe através dos seus olhos e à sua ilusão de que tudo podia ser muito pior do que é. Quando a radioatividade começa a entranhar-se nos seus corpos, aquilo que começa como uma comédia simpática vai-se transformando, lentamente, numa tragédia dilacerante, difícil de suportar, mas sublimada pela impressionante história de amor entre estas duas pessoas. O motivo principal de Quando o Vento Sopra é o de uma história infantil; o efeito é o de um murro no estômago que ainda hoje se mantém poderoso. Destacando juntamente com os desenhos animados natalícios de Raymond Briggs (Father Christmas e The Snowman) que, na Inglaterra, são clássicos que toda a gente sabe de cor). Deve advertir-se sem embargo que este filme não é um desenho animado para crianças, embora possa ser olhado por elas e por alunos de primária. Pois é mesmo um grande filme de animação, inesquecível, tal como a canção do genérico, que ainda vendeu o seu quê nos idos de 86, mas que é hoje um single raro do mestre David Bowie, sob o título de When The Wind Blows.

A SABEDORIA DE GANDHI:

Podemos apoiar-nos nas lindas palavras de Gandhi para sensibilizar os nossos alunos sobre o importante que é a paz e a não-violência, que não é possível sem antes conseguir o desarmamento de todo o tipo de armas, nomeadamente as nucleares e químicas ou de destruição em massa.

Gandhi, para refletir, diz-nos:

Mantenha os seus pensamentos positivos, porque os seus pensamentos tornam-se as suas palavras. Mantenha as suas palavras positivas, porque as suas palavras tornam-se as suas atitudes. Mantenha as suas atitudes positivas, porque as suas atitudes tornam-se os seus hábitos. Mantenha os seus hábitos positivos, porque os seus hábitos tornam-se os seus valores. Mantenha os seus valores positivos, porque os seus valores… Tornam-se o seu destino. (…)

Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo”. (…)
“A verdade reside em todo coração humano, e cada um deve procurar por ela lá, e ser guiado pela verdade assim que a veja. Mas ninguém tem o direito de forçar os outros a agirem de acordo com a sua própria visão da verdade. (…)

Nunca use violência de nenhum tipo. Nunca ameace com violência de nenhum modo. Nunca sequer tenha pensamentos violentos. Nunca discuta, porque isto ataca a opinião do outro. Nunca critique, porque isto ataca o ego do outro. E o seu sucesso está garantido.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Quando o vento sopra puzzleTendo em conta que se trata de um filme de animação, utilizando a técnica do Cinema-fórum, podemos analisar do mesmo aspetos como: adaptação do roteiro baseado no livro de desenhos de Briggs, estilo dos desenhos, modo de contar a história e sua narrativa, uso dos diferentes planos, psicologia das personagens, combinação de desenhos com imagens reais (uma das inovações do filme), forma de alcançar o “suspense” no espetador, importância da banda sonora e comparação com outros filmes de animação.

Plano de atividades didático-lúdico-artístico-festivas a organizar nos diferentes estabelecimentos de ensino, dentro da Semana Internacional do Desarmamento, que se celebra habitualmente em todos os países na última semana do mês de outubro:

  • Certame infantil de desenho de cartazes, autocolantes e murais a favor da eliminação de todo o tipo de armas.
  • Certame escolar de redações sobre o desarmamento: poemas, contos, lendas, frases, aforismos, etc.
  • Elaboração de murais coletivos, ilustrados com fotografias, desenhos e textos dos alunos, podendo levar também retalhos de jornais e revistas.
  • Redação de monografias, seguindo o modelo de Freinet da biblioteca do trabalho. Temas possíveis: consequências de uma guerra nuclear, a bomba atómica, as armas químicas, a máfia das armas, os brinquedos de caráter bélico e como eliminá-los, países em guerra, ideias para conseguir o desarmamento no mundo, as crianças e a guerra, etc.
  • Concerto escolar de música e canções, com temas e letras relacionadas com a paz, a não-violência, contra as guerras, contra as armas e a favor da irmandade e o amor entre os seres humanos.
  • Certame teatral e de fantoches, com obras relacionadas com a paz e o desarmamento, e mesmo com diálogos e jogos dramáticos que podem ser redigidos pelos próprios estudantes.
  • Ciclo de cinema sobre a paz e a não-violência e com filmes antibélicos, de desenhos animados e documentários.
  • Encontro de jogos e atividades lúdicas, com jogos tradicionais e cooperativos.

 

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