Partilhar

Cecília Meireles, educadora tagoreana e poeta (filme: ‘Os Inconfidentes’)

CECILIA MEIRELES FotoÀ grande poeta brasileira Cecília Meireles (a mais grande, junto com Rosália de Castro, das nossas letras), aconteceu-lhe o mesmo que a Robindronath Tagore. São muitos no mundo os que conhecem ambos na sua faceta literária, mas nem tanto a sua faceta mais importante, que foi a pedagógica e educativa. Por sinal, a Cecília foi a maior tagoreana do Brasil; traduziu quatro dos seus livros à nossa língua, dedicou-lhe vários e formosos poemas e numerosos artigos e depoimentos, ademais de promover no Brasil a comemoração do seu centenário. Sobre tão importante tema pesquisei e escrevi no seu dia no PGL este artigo.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901, filha dos açorianos Carlos Alberto de Carvalho Meireles, um funcionário de banco, e Matilde Benevides Meireles, uma professora. Cecília Meireles foi filha órfã criada pola sua avó açoriana, D.ª Jacinta Garcia Benevides, natural da ilha de São Miguel. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916 e estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional. Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma das suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil em livros didáticos como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964. De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação. Em 1934 organiza no Rio de Janeiro a primeira biblioteca infantil do Brasil. Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894 – 1974), Anísio Teixeira (1900 – 1971), Afrânio Peixoto (1876 – 1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, quadro da renovação educacional do país. Em 1934 funda (como comentei antes) a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Centro Cultural Infantil do Pavilhão Mourisco (bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro), a qual não fica aberta por mais de quatro anos por causa de intrigas políticas. Neste ano, faz a sua primeira viagem ao exterior, para Portugal, onde difunde a cultura, literatura e o folclore brasileiro, numa série de conferências em Lisboa e Coimbra.

CECILIA MEIRELES Manuscrito com sua assinaturaComo já comentei, pouca gente conhece a faceta educadora da jornalista desta poetisa. Nascida três meses após a morte do pai, perdeu a mãe, a professora Mathilde Benevides, aos três anos de idade. Acabou sendo criada pola avó materna, Jacinta Garcia Benevides, e pola sua babá, Pedrina. Tanto uma como a outra tiveram forte influência na vida profissional de Cecília: a avó, polo gosto pola leitura, e a babá, polas cantigas e lendas folclóricas, que vieram a fazer parte do repertório literário da escritora. Cecília Meireles começou sua carreira no magistério com 17 anos. Um ano depois, publicou seu primeiro livro de poemas, Espectro. Como professora disputou, em 1929, a cátedra de Literatura da Escola Normal do Distrito Federal, ficando em 2º lugar. A sua tese defendia uma modernização do ensino, seguindo os preceitos da Escola Nova, que prega que o trabalho do professor deve ser realizado com amor e focado no desenvolvimento da criança e na valorização da liberdade. Foi considerada muito ousada. Defendeu sempre os postulados de uma educação mais moderna. De 1930 a 1933, produziu artigos diários sobre educação no jornal Diário de Notícias. O pensamento de educadores como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo ganhou visibilidade na sua coluna. Foi nesse espaço que, em 1931, ela escreveu um artigo feroz contra o decreto sobre o ensino religioso do na altura Ministro da Educação e Saúde, Francisco Campos: “Esse ensino religioso nas escolas, que um Ministro irresponsável decretou, e um Presidente desatento (ou hábil…) sancionou, é um crime contra a nação e contra o mundo, contra os brasileiros e contra a humanidade”.

A sua luita por um ensino de melhor qualidade para o país levou-na a assinar, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação de que já comentámos. Dous anos depois, Cecília teve a chance de aplicar as suas ideias ao ser convidada por Anísio Teixeira, que era diretor do Departamento de Educação do Distrito Federal, para assumir o Centro de Cultura Infantil, instalado no Pavilhão Mourisco. Era a primeira biblioteca dedicada ao público infantil em todo o Brasil. Podemos considerar Cecília como uma educadora militante, que faleceu no Rio de Janeiro aos 63 anos, a 9 de novembro de 1964. O único filme que encontramos, baseado só em parte em alguns dos seus poemas do livro Romanceiro da inconfidência, publicado por primeira vez em 1953, foi o realizado sob o título de Os inconfidentes por Joaquim Pedro de Andrade no ano 1972. Surpreende que uma figura educativa e literária tão grandiosa e importante como Cecília Meireles, não fosse no Brasil levada às telas do cinema, nem fossem tomados seus lindos livros como base para roteiros cinematográficos. Eis uma dívida pendente com esta excelente educadora e escritora.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Os Inconfidentes foto0Título original: Os Inconfidentes.
  • Diretor: Joaquim Pedro de Andrade (Brasil-Itália, 1972, 100 min., cor).
  • Roteiro: Eduardo Escorel e J. Pedro de Andrade, baseado no livro Autos da devassa, compilação dos documentos levantados nos processos contra os inconfidentes, dos autores Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, e em vários poemas de O Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles.
  • Nota: O filme pode ser olhado entrando no Youtube.
  • Fotografia: José António Ventura. Música: João Gilberto canta Aquarela do Brasil e Farolito de Agustín Lara. Distribuidora brasileira: Embrafilme.
  • Produtoras: Filmes do Serro e Mapa Filmes.
  • Prémios: Melhor filme no Troféu APCA de Brasil, em 1973.
  • Atores: José Wilker (Tiradentes), Luiz Linhares (Tomás Antônio Gonzaga), Paulo César Peréio (Alvarenga Peixoto), Fernando Torres (Cláudio Manuel da Costa), Carlos Kroeber (tte-cel. Francisco de Paula Freire de Andrade), Nelson Dantas (côn. Luís Vieira da Silva), Margarida Rey (Marília de Dirceu), Susana Gonçalves (rainha Maria I de Portugal), Carlos Gregório (José Álvares Maciel), Wilson Grey (Joaquim Silvério dos Reis) e Fábio Sabag (Visconde de Barbacena).
  • Argumento: O filme foi filmado em Ouro Preto, Minas Gerais, e é uma versão cinematográfica da Inconfidência Mineira, de seu início até o degredo dos inconfidentes e a execução de Tiradentes.
  • Outros dados sobre o filme: Tráta-se de um contraponto a outro filme do mesmo ano, Independência ou morte, que celebrava os 150 anos da independência do Brasil de forma heróica e ufanista. Os inconfidentes, ao contrário, mostrando a mão de ferro da Coroa portuguesa, é uma metáfora do regime autoritário da ditadura militar brasileira naquela altura.

Os roteiristas construíram diálogos que se inseriam no contexto da falta de liberdade do período militar. Para que o filme não fosse proibido, o diretor concordou em inserir propaganda pró-governo, e o que ficou foi um apêndice sarcástico e irônico (ao fundo, Aquarela do Brasil, de Ari Barroso), com o qual conseguiu exibir o filme. Fernando Torres voltou a repetir o papel do poeta Cláudio Manuel da Costa, que já vivera na telenovela Dez vidas, na TV Excelsior. Sobre o tema foram realizados outros filmes: Tiradentes, filme (1999) de Oswaldo Caldeira, Dez Vidas, telenovela (1969) de Ivani Ribeiro sobre a Inconfidência Mineira, Tiradentes, o Mártir da Independência, filme (1972) de Geraldo Vietri e Inconfidência Mineira, filme (1948) de Cármen Santos.

  • CECILIA MEIRELES Capa livro Romanceiro da InconfidênciaO livro de Cecília Meireles: Romanceiro da Inconfidência é uma coletânea de poemas publicada em 1953, que conta a História de Minas dos inícios da colonização no século XVII até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do século XVIII na então Capitania de Minas Gerais. Em 85 “romances”, mais quatro “cenários” e outros de prólogo e êxodo, Cecília evoca primeiro a escravidão dos africanos na região central do planalto em episódios da exploração do ouro e dos diamantes no século 18; logo o centro da coletânea é dedicado ao destino dos heróis da chamada “Inconfidência Mineira”, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, sua noiva e amada Marília de Dirceu, bem como de outras figuras históricas implicadas no acontecimento, como Dª. Maria I a louca, na altura Rainha de Portugal. Mais lírica do que narrativa, a obra assume o lado dos derrotados (transformados depois em heróis da Independência do Brasil) denunciando o sistema colonial que favorece a exploração dos desvalidos:

A terra tão rica
e – ó almas inertes! –
o povo tão pobre…
Ninguém que proteste! (…) (in: Do animoso Alferes, Romance XXVII)

Estes branquinhos do Reino
nos querem tomar a terra:
porém, mais tarde ou mais cedo,
os deitamos fora dela. (in: Do sapateiro, Romance XLII).

A nova interpretação da história serve no entanto de ponto de partida para uma reflexão filosófica e metafísica sobre a condição humana. Surgindo Tiradentes como um avatar de Cristo e sofrendo o sacrifício do bode expiatório, ele se torna num redentor do Brasil, que abriria a nova era da liberdade. “Construindo com o Romanceiro da inconfidência um mosaico em que cristalizariam vibrações captadas na terceira margem da memória coletiva, Cecília consolidava uma teia de mitos suscetíveis de fortalecer o sentimento da identidade brasileira”.

Dorme, meu menino, dorme,
— que Deus te ensine a lição
dos que sofrem neste mundo
violência e perseguição.
Morreu Filipe dos Santos:
outros, porém, nascerão. (in: Destruição do Ouro Podre, Romance V).

PENSAMENTO EDUCATIVO DE CECÍLIA MEIRELES:

Cecilia Meireles capa livro Criança meu amorCecília Meireles rompe tabus de uma sociedade, deixando a sua marca na história brasileira como defensora universal da educação. Polo que nos diz:

“A alma infantil, como aliás a alma humana, não se revela jamais completa e subitamente como uma janela que se abre deixando ver todo um cenário. Suas comunicações com o exterior –e até consigo mesma– se fazem veladamente, aos poucos, mediante detalhes de tão grande reserva que frequentes vezes passam de todo despercebidos.”

Sobre a infância e a literatura infantil escreve:

“A literatura precede o alfabeto. Os iletrados possuem a sua literatura. Os povos primitivos, ou quaisquer agrupamentos humanos alheios ainda às disciplinas de ler e escrever, nem por isso deixam de compor seus cânticos, suas lendas, suas histórias; e exemplificam sua experiência e sua moral com provérbios, adivinhações, representações dramáticas, vasta herança literária transmitida dos tempos mais remotos, de memória em memória e de boca em boca”. (Do seu livro Problemas da literatura infantil, 1979, p. 19).

“Não há quem não possua, entre suas aquisições da infância, a riqueza das tradições recebidas por via oral. Elas precederam os livros, e muitas vezes os substituíram. Em certos casos, elas mesmas foram o conteúdo desses livros. O negro na sua choça, o índio na sua aldeia, o lapão metido no gelo, o príncipe em seu palácio, o camponês à sua mesa, o homem da cidade em sua casa, aqui, ali, por toda parte desde que o mundo é mundo, estão contando uns aos outros o que ouviram contar, o que lhes vem de longe, o que serviu a seus antepassados, o que vai servir a seus netos, nesta marcha da vida”. (Na página 42 do mesmo livro)

Numa linda entrevista concedida em maio de 1964, uns meses antes de falecer, ao jornalista Pedro Bloch, publicada na revista Manchete nº 630 (16-05-1964), Cecília, entre outras muitas cousas, explica-nos:

“Terminada a Escola Normal, fui lecionar o primário, ainda com um jeito de menina, num sobrado da Avenida Rio Branco. Ali, na mesma sala, havia duas turmas e duas professoras, a metade voltada para cada lado. Pois as crianças, vendo-me quase tão menina quanto elas, viraram quase todas para mim. Sempre gostei muito de ensinar. Trabalhei na Escola Deodoro, ali junto ao relógio da Glória. Fui professora de Literatura da Universidade do Distrito Federal. Criei a primeira biblioteca infantil, ali onde era o Pavilhão Mourisco. Criança que não tivesse onde ficar podia encontrar o livro que lhe faltava, coleção de selos, moedas, jogos de mesa, sonhos, histórias e as explicações de professoras prontas e atentas. Acabou, depois de quatro anos, mas frutificou em São Paulo onde hoje existe até biblioteca infantil para cegos. Também ensinei História do Teatro na Fundação Brasileira. O resto da minha atividade didática está nas conferências em que sempre procuro transmitir algo”.

Mais para a frente continua para dizer-nos:

“Vivo constantemente com fome de acertar. Sempre quase digo o que quero. Para transmitir, preciso saber. Não posso arrancar tudo de mim mesma sempre. Por isso leio, estudo. Cultura, para mim, é emoção sempre nova. Posso passar anos sem pisar num cinema, mas não posso deixar de ler, deixar de ouvir minha música (prefiro a medieval), deixar de estudar, hindi ou o hebraico, compreende?”.

Para finalmente assinalar:

Fotograma de 'Os Inconfidentes'
Fotograma de ‘Os Inconfidentes’

“Cada lugar aonde chego é uma surpresa e uma maneira diferente de ver os homens e coisas. Viajar para mim nunca foi turismo. Jamais tirei fotografia de país exótico. Viagem é alongamento de horizonte humano. Na Índia foi onde me senti mais dentro de meu mundo interior. As canções de Tagore, que tanta gente canta como folclore, tudo na Índia me dá uma sensação de levitar. Note que não visitei ali nem templos nem faquires. O impacto de Israel também foi muito forte. De um lado, aqueles homens construindo, com entusiasmo e vibração, um país em que brotam flores no deserto e cultura nas universidades. Por outro lado, aquela humanidade que vem à tona pelas escavações. Ver sair aqueles jarros, aqueles textos sagrados, o mundo dos profetas. Pisar onde pisou Isaías, andar onde andou Jeremias … Visitar Nazaré, os lugares santos! A Holanda me faz desconfiar de que devo ter parentes antigos flamengos. Em Amsterdã, passei quinze dias sem dormir. Me dava a impressão de que não estava num mundo de gente. Parecia que eu vivia dentro de gravuras. Quanto a Portugal, basta dizer que minha avó falava como Camões. Foi ela quem me chamou a atenção para a Índia, o Oriente: “Cata, cata, que é viagem da Índia”, dizia ela, em linguagem náutica, creio, quando tinha pressa de algo, chá-da-Índia, narrativas, passado, tudo me levava, ao mesmo tempo à Índia e a Portugal”.

O conhecimento de várias línguas ajudou a Cecília nas viagens que fez ao exterior, iniciadas em 1940. Por este motivo, pôde lecionar Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas em EUA; proferir um ciclo de conferências sobre literatura, folclore e educação na cidade de México, seguindo-se, de 1944 a 1958, Uruguai, Argentina, Açores, Porto Rico, Índia, Goa, Israel e varias cidades de Europa. A Índia, que desde a adolescência fascinava Cecília, despertou na educadora e poeta um grande interesse, chegando a publicar um livro de poemas dedicado a este imenso país da Ásia.

APOIO AO MODELO DA ESCOLA NOVA OU MODERNA:

Fotograma de 'Os Inconfidentes'
Fotograma de ‘Os Inconfidentes’

Cecília possui uma trajetória de atuação social riquíssima, figurando como educadora, poetisa, folclorista, cronista na grande imprensa, crítica literária e até mesmo tradutora de livros estrangeiros. Dos anos 1920 a 1930, envolveu-se com o movimento de renovação educacional, assinando o Manifesto mencionado antes, em 1932. Nos três primeiros anos da década de 1930, dirigiu a Página da Educação no jornal Diário de Notícias, através da qual expressava e difundia os ideais da Escola Nova para o público em geral. E também, já no final da década de 1940, esteve envolvida com o Movimento Folclórico brasileiro (1947-1967), participando ativamente de suas ações nacionais e regionais. Boa parte da bibliografia sobre ela aborda seu engajamento na área educacional e o seu envolvimento com o grupo escolanovista. Todos os estudiosos de sua figura concordam na valorização das suas atividades vinculadas à educação, desempenhando funções de professora, diretora de escola pública, autora de livros escolares, intelectual que reflete sobre o alcance educativo do movimento folclórico, pedagoga brasileira pertencente ao movimento da Escola Nova ou Moderna, organizadora e diretora de bibliotecas infantis, jornalista e cronista na imprensa e na rádio, divulgando temas relacionados com a escola e a educação, poeta também para crianças, escritora de peças infantis para o teatro, e uma das primeiras no Brasil a aprofundar nos problemas relativos à literatura para a infância e à formação dos leitores, animando à leitura. No seu trabalho de divulgação do ideário da Escola Nova, conferia um lugar de destaque à problemática da educação das crianças e a reflexões sobre a infância. Depositava nas crianças sua esperança de transformação social, além de vê-las como seres puros, diferentes dos adultos. Dentro da sua coluna Professores e estudantes do jornal A Manhã (1941-1943), passou a publicar uma série de estudos sobre folclore infantil, intitulados “Infância e Folclore”.

Como pioneira da Educação Nova no Brasil, junto com outros 25 educadores brasileiros pioneiros, assinantes do manifesto tantas vezes citado, Cecília propunha um programa de política educacional amplo e integrador, dentro do qual temos que destacar as propostas seguintes: a seleção dos alunos nas suas aptidões naturais, a supressão de instituições criadoras de diferenças sobre base económica, a incorporação dos estudos do magistério à universidade, a equiparação dos mestres e professores em remuneração e trabalho, a correlação e a continuidade do ensino em todos os graus e a reação contra tudo que lhe quebra a coerência interna e a unidade vital, constituindo um programa de política educacional, fundada sobre a aplicação do princípio unificador que modifica profundamente a estrutura íntima e a organização dos elementos constitutivos do ensino e dos sistemas escolares.

No livro de Lourenço Filho Introdução ao Estudo da Escola Nova vêm recolhidos muito bem os trinta princípios educativo-didáticos e organizativos básicos aprovados em Calais polo movimento das Escolas Novas. Com todos os que concordava na teoria e na prática Cecília Meireles.

AS SUAS IDEIAS EDUCATIVAS MAIS IMPORTANTES:

CECÍLIA MEIRELLES por EREIOSob o título de Crônicas de Educação, em 2001 foram publicados pola editora Nova Fronteira do Rio de Janeiro, em cinco volumes, ao cuidado e com apresentação do professor Leodegário A. de Azevedo Filho, os artigos publicados em diferentes jornais, muitos de caráter educativo, em publicações periódicas que já foram relacionadas ao largo do presente depoimento. Tomando como base esta publicação póstuma, escolhi as que considero ideias educativas mais importantes de Cecília Meireles, e que a seguir resenho:

  1. Levar à prática em todas as escolas brasileiras os 30 princípios educativos e organizativos propostos no Congresso de Calais de 1919 polos representantes das Escolas Novas que lá acudiram. Os que Lourenço Filho recolheu no livro anteriormente citado.
  2. Educar para um mundo melhor: os educadores devem entrar com a força da sua esperança, acreditando que, no passar das gerações, irá-se operando uma transformação lenta (mas segura) das ideologia dos homens e dos povos, aproximando-se de uma condição mais perfeita, num mundo mais feliz.
  3. O verdadeiro valor da educação: tudo é sempre uma questão de educação. Para que o sonho não se perca e se faça realidade sem deixar de ser sonho. Para isto devemos seguir o exemplo dos grandes educadores e intelectuais que houve no mundo.
  4. Educação e liberdade: o principal problema da educação moderna é a liberdade humana, no seu mais grandioso sentido. As pessoas adquirem sua liberdade por meio, justamente, da educação. Para isto é necessário democratizar o ensino e trabalhar por uma escola única e pública.
  5. Educação e paz: O sonho da paz sobre a terra descansa nesse intuito comovedor de tornar iguais todos os homens a partir do instante neutro da infância, dentro da neutralidade da escola. A escola tem de ser o lugar de reunião daqueles que se preparam para a arte difícil de viver, formando harmoniosamente as crianças, numa coerência admirável de todos os seus elementos.
  6. O lar e a escola: a educação moderna, para ser uma realidade viva, depende do entendimento de professores e pais, de modo que a obra da escola e do lar se unifique numa comum intenção. A escola moderna é francamente aberta ao público. O seu maior desejo é estabelecer o contato de pais e professores, para que ambos deem o melhor e mais bem orientado esforço ao serviço da criança. É necessário que exista uma diretriz harmónica no ambiente infantil, no lar e na escola.
  7. Modelo de professor: ser professor é como ser artista; não se faz, já se nasce. É ter coração para se emocionar diante de cada temperamento, é ter imaginação para sugerir, é ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados, saber ser poeta para inspirar, ter prestígio moral e conduzir com doçura e entusiasmo as vidas das crianças que lhe são entregues.
  8. Uso das novas tecnologias: um dos elementos de mais imediata importância nas escolas de hoje é o cinema educativo. Além de instrutivo, o cinema pode ser considerado até curativo. A introdução do cinema nas escolas obedece a uma necessidade natural a que as circunstâncias do progresso humano podem atender. Há que ensinar as crianças a olhar bom cinema e aprender olhando documentários. Sobre o tema do cinema educativo nas aulas já escrevia no ano 1929.
  9. Desenvolvimento das áreas artísticas: a música, o teatro, a boa literatura infantil, as manualidades, as atividades lúdicas, o folclore infantil, a poesia, os conta-contos, as visitas a museus, o cinema, a animação à leitura, a dança, o artesanato… Tudo isto deve ter um importante tempo e espaço nas escolas.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinemaforum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica) e o fundo do filme Os Inconfidentes realizado por Joaquim Pedro de Andrade.

Organizar nos estabelecimentos de ensino um recital poético, fazendo uma seleção de poemas dos livros de poesia para crianças escritos por Cecília Meireles: Giroflê, Giroflá (1956), Ou isto ou aquilo (1964), Criança, meu amor (1923) e A Festa das Letras (1937). Paralelamente podemos organizar uma amostra monográfica dedicada à grande educadora e poeta, com fotos, frases, textos, aforismos, poemas e livros. E pode policopiar-se ou editar-se uma monografia aproveitando todo o material que foi recolhido.

Organizamos um Livroforum arredor de algum livro de Cecília Meireles. Pode ser um entre os seguintes: Romanceiro da Inconfidência (1953), Poemas escritos na Índia (1953), Problemas de Literatura Infantil (1950), Crônicas de educação (Vol. 1) (2001) ou O que se diz e o que se entende (Crônicas) (2002). Antes, comprometemo-nos estudantes e docentes a lê-lo na sua totalidade.

Nota: A série dedicada a grandes educadores/as, polo que respeita ao presente ano de 2015, dentro de As Aulas no Cinema, iniciei-na com Gabriela Mistral (4-02-2015), continuando agora com Cecília Meireles em segundo lugar (22-07-2015). A série vai ter continuidade em agosto e setembro próximos, com depoimentos dedicados por esta ordem a A. S. Makarenko, Matthew Lipman, Andrés Manjón, Emília Ferreiro, Robert Owen, Helena Antipoff e Leão Tólstoi.

Comissom Linguística da AGAL reinicia os seus trabalhos

AGAL organiza obradoiros de português para centros de ensino primário e secundário em Moanha

Saioa Sánchez, neofalante: “Para mim faz muito sentido falar galego se vais viver na Galiza”

Lançamento do livro “André”, de Óscar Senra, com Susana Arins em Vedra

AGAL e Concelho de Cotobade apresentam Leitura Continuada da República dos Sonhos

Queique de abacate e limão

Comissom Linguística da AGAL reinicia os seus trabalhos

AGAL organiza obradoiros de português para centros de ensino primário e secundário em Moanha

Saioa Sánchez, neofalante: “Para mim faz muito sentido falar galego se vais viver na Galiza”

Lançamento do livro “André”, de Óscar Senra, com Susana Arins em Vedra