Em 2017 comemora-se o 120 aniversário do encontro entre Antonio Udina, alcumado Burbur (o derradeiro falante de dálmata) e M. G. Bartoli (o linguista que realizou o estudo mais importante sobre essa língua, que recolheu na sua obra “Das Dalmatische“).
O Centro de Cultura de Krk (a ilha onde nasceu António Udina) celebrará-o com um livro intitulado “Assim falava Burbur“, no que, entre outras cousas, Alan Žic escreve sobre a presência da história de Burbur em diversas literaturas peninsulares, recolhendo a banda desenhada de Raimundo Patinho “O home que falava vegliota“, o romance de Manuel Veiga “O profesor de vegliota“, o poema “Artefacto Burbur” de Igor Lugris e sua versão musical realizada por Fanny e Alexander.
O livro inclui uma tradução do poema de Igor Lugris ao croata, assim como diversa informação sobre a relação entre o autor galego e Burbur, fazendo referência ao pub que com esse mesmo nome regeu na compostelá rua da Algália de Abaixo entre 1998 e 2001, o cartaz desenhado por ele mesmo com o poema, o seu bloque “Ovnis e Isoglossas”.
O poema de Igor Lugris foi publicado por vez primeira na rede, numa iniciativa de Vieros, no ano 1996, com motivo da homenagem do Dia das Letras a Ferro Couselo.
Hoje damos a conhecer a tradução ao croata do poema, realizada por Alan Žic, como adianto da próxima publicação do mencionado livro, da que daremos notícia quando esteja definitivamente na rua, ao tempo que publicamos novamente o texto, revisado polo autor para ser adaptado à norma do AO (na sua versão original no livro “Quen nos defende a nós dos idiotas”, foi publicado na norma conhecida na altura como “Mínimos Reintegracionistas”, pudendo ser consultada aqui.
Artefacto Burbur
(Igor Lugris)
“Si seguimos utilizando el lenguaje en su clave corriente, con sus finalidades corrientes, nos moriremos sin haber sabido el verdadero nombre del dia”
(Julio Cortázar)
António Udina está morto
e também está morto Elvis
dizem os Living Colour
Elvis era branco
dizem
e por isso gravava muitos discos
Se for negro não poderia
não poderia nem ranhar na guitarra
António Udina não era negro
mas desde logo não falava uma língua de brancos
Talvez esteja entre nós o nosso António Udina particular
Ele quando era pequeno não imaginava que ia ser António Udina
e centos de milheiros de estudantes saberiam dele
e saberiam de memória a data da sua morte
Ele não sabia
E Elvis também não
Mas Elvis era branco
E António Udina não falava uma língua de brancos
Além disso falava vegliota
Elvis fazia rock porque vendia
António Udina falava vegliota mas ele não sabia
porque já em 1898 não ficava ninguém que falara raguseo
Chamava-se António Udina mas também lhe chamavam Burbur
A Elvis chamavam-lhe El-Rei
The King em inglês que parece mais importante
mas Elvis era branco
e por isso podia ser El-Rei
António Udina só podia ser Burbur
Entre nós nunca haverá um Elvis
a não ser que se faça branco e fale com a língua dos brancos
Mas todos somos António Udina
e nos chamam Burbur
Elvis era branco e por isso gravou muitos discos
António Udina não era negro
mas a sua língua não era de brancos
mesmo que todos falamos dálmata alguma vez na nossa vida
Artefakt Burbur
(tradução: Alan Žic)
Antonio Udina je mrtav
i također je mrtav Elvis
rekoše Living Colour
Elvis je bio bijelac
rekoše
i zato je snimao mnoge ploče
da je bio crnac ne bi mogao ne bi mogao
ni taknuti gitaru
Antonio Udina nije bio crnac
ali odavno nije govorio neki jezik bijelaca
Možda je među nama neki Antonio Udina privatno
On kad je bio mali nije ni sanjao da će postati Antonio Udina
i stotine tisuća studenata znat će za njega
i znat će napamet datum njegove smrti
on to nije znao
ni Elvis također nije ali
Elvis je bio bijelac
i Antonio Udina nije govorio jezik bijelaca
dapač govorio je veljotski
Elvis je stvarao rock jer se prodavao
Antonio Udina govorio je veljotski ali on to nije znao
jer već 1898 nije bilo nikog koji je govorio raguzejski
Zvao se Antonio Udina ali zvali su ga također Burbur
Elvisa su zvali Kralj
King na engleskom jer djeluje važnije
ali Elvis je bio bijelac
zato je mogao biti Kralj
Antonio Udina mogao je biti samo Burbur
među nama nikad neće biti jedan Elvis
osim ako se ne pretvori u bijelca i ako govori jezik bijelaca
ali svi smo mi Antonio Udina
i zovu nas Burbur
Elvis je bio bijelac i zato je snimao mnoge ploče
Antonio Udina nije bio crnac
ali njegov jezik nije bio bijelački
još svi govorimo dalmatski poneki put u našem životu