Andar-se assim queixando

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Cirola vi andar se queixando
de que lhi nom dam sas quitações
mais des que oi bem sas razões
ena conta foi mentes parando
logo tenh’ei que nom dissera rem
ca era ja quite de todo bem porem
faz mal d’andar se assi queixando.
Afonso X

Os efeitos dos recortes são evidentes. São. Também é a acumulação de anos de má análise e péssima planificação. Pois. Neste contexto, o professorado de língua galega nos liceus, com exceção de pequenos enclaves rurais onde a língua galega resiste, laia-se monocorde da perda absoluta do conhecimento, péssima qualidade e alheamento da língua no alunado; e, também, do revival de rejeitamento, por parte de alunado, colegas, pais e mães, consciente ou inconsciente, mas por causas ideológicas e preconceitos sociais, à matéria, e ao uso da língua galega, fora e até dentro do entorno aula.

Quem não tem colegas, amizades neste grémio, quem não os ouviu a falarem em desespero desta situação? Quem não lê os inúmeros artigos de opinião e entrevistas a respeito de gentes que merecem toda a consideração e até admiração?

Ninguém questiona mais a respeito da desfeita, que as “profecias exageradas” dos lusistas de proa dos anos 70, que as análises de Lapa, Carlos Durão, Martinho Montero, Carvalho Calero, que as teses de António Gil nas décadas a seguir, discípulos e continuadores, alvejaram mais perto e com mais precisão que os inúmeros estudos, informes, documentos, projetos, e publicações produzidas pelos académicos institucionais e pagas pelas instituições.

Porém, ainda não se questiona que o modelo de professorado “militante”, a política linguística na base, as práticas docentes e nomeadamente os alicerces da filosofia do discurso e com elas a pedagogia dos/as docentes de Língua galega estejam obsoletas e por tanto, que sem serem conscientes, continuam funcionando sobre esquemas, com discursos, supostos e práticas sociais que já não existem mais.

E se o cenário é outro, outras as necessidades do alunado e por tanto outras as motivações, os conteúdos, os discursos e as reflexões. Outras as exigências, os objetivos, as competências do professorado. Outros os materiais, os currículos, as práticas de aula.

Também, é bem verdade, não é culpa nenhuma de um professorado formado, subscritor e abaixo assinante, em ideologias e políticas linguísticas outrora à moda, escolhido, promovido e controlado numa prática não pouco inquisitorial, mas abandonado por décadas à sua intuição, prática e reflexão. E hoje, carregado de horas e também de anos, não o acompanham, não, as diretrizes e estratégias das Conselharias, incapazes de analisar, estruturar, re-definir os estudos de língua galega com qualquer seriedade ou com qualquer objetivo.

A realidade exige constantemente novas estratégias. Outros discursos, outras práticas. Adaptar-se. Simplesmente já não quadram as contas. Portanto, ou estão mal as contas, ou está mal a [análise da] realidade.

Isso, ou que contemplamos, por goleada da prática e duche fria de realidade, o colapso do modelo pedagógico baseado na análise ILG-Piñeiro-RAG e sustente nas últimas décadas pelas instituições académicas pedagógicas e culturais, com uma Junta da Galiza ausente.

Afortunadamente que existe o Reintegracionismo e que está já aí o entrudo chocalheiro.

Máis de Ernesto V. Souza