Alçar a voz com Albert Hirschman: Saída, Voz e Lealdade

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Otto-Albert Hirschman, (1915-2012), foi um judeu alemám a quem devemos contributos inesquecíveis á reflexom da economia como ciência social, quer dizer, nom contaminada pola instrumentalizaçom a que se vê submetida a disciplina sob o domínio da “economics”, que apenas oculta a sua inanidade com um manto de formalizaçom matemática axiomática tam brilhante como estéril.

Pertence Hirschman a essa categoria seleta de pensador transversal, traço que comporta a imediata exclusom do cánone académico, sempre cioso de leiras, limites e parcelas incomunicadas em prejuízo da reta compreensom totalizante que a ciência requer.

Hirschman é, em suma, um outsider, um habitante do seleto panteom onde residem os bem-aventurados Karl Polanyi, John Gray, Galbraith, Kenneth Boulding, Amartya Sen, ou, sem sairmos da casa, José Manuel Naredo.

Hirschman convida os interessados na análise da sociedade à reflexom sobre as atitudes sociais sistematicamente contrárias a qualquer mudança (Retóricas da reaçom); a abordar a análise histórica do dilema paixons ↔ interesses (As paixons e os interesses), ideais frente a pragmatismos, e, o que agora mais nos interessa, a dilucidar o trilema aberto a qualquer participante num mercado ou organizaçom em crise: abandonar, alçar a voz ou inibir-se na lealdade (Saída, Voz e Lealdade).

Saída, Voz e Lealdade via a luz em 1970 e em castelhano em 1977, da mao da benemérita editorial mexicana FCE. A obra citada visa discutir o problema aberto a um consumidor desconforme com a mercadoria ou serviço oferecido num mercado competitivo: deixar de comprar o produto, reclamar —só ou em forma coletiva— a correçom das deficiências ou a espera passiva a falta de cousa melhor. O próprio subtítulo da obra estende a pertinência da análise desde o conflito de mercado ao de qualquer organizaçom, a AGAL, por exemplo.

Os sócios da AGAL fomos convocados a umha próxima Assembleia extraordinária onde havemos de eleger nova diretiva e, simultaneamente, decidir sobre três questons incorporadas pola única candidatura apresentada. Duas som de trámite e a outra conflituosa. Aquelas referem à potenciaçom e aproveitamento da Lei Paz-Andrade e o fomento da conexom entre a cultura galega e a perspetiva reintegracionista. Quem poderia opor-se a tam plausíveis propósitos?

A questom conflituosa tem, ainda por riba, umha intrincada formulaçom que consegue desconcertar o interpelado por quanto pode ser interpretada como um hibrido de consulta e programa implícito: “quer o sócio avançar na otimizaçom das duas tradiçons gráficas que convivem no reintegracionismo mediante o desenvolvimento de umha norma unitária que as aglutine”? Que as aglutine, se há “duas tradiçons gráficas”, cabe pensar, por algo será.

O programa implícito na questom aponta para a reformulaçom do equilíbrio dinámico em que descansa a organizaçom à maneira de umha bicicleta.

Acudamos ao magistério de Hirschman para tentar objetivar o anfiteatro do conflito latente. O trilema de Hirschman acolhe, se bem o entendemos, um duplo dilema marcado polos dous eixos que orientam as atitudes em pugna: ativa/passiva, convergente/divergente.

esquema saída, voz, lealdade

Muitos sócios optámos nestes dias polo quadrante voz, muitos companheiros refugiárom-se no quadrante lealdade, alguns olham já com apreensom para o quadrante saída e por último, os mais inativos ou descomprometidos decidem instalar-se na negligência.

O bom da lógica é que contribui para esclarecer dilemas morais como bem sabia Wittgenstein mas nom é demasiado útil para abordar a componente política dos dilemas, neste caso a promoçom social do projeto assumido quando um ingressa num movimento de ativismo cultural.

A questom adopta sob este novo ponto de vista outra perspetiva: partilhamos o mesmo projeto? É o galego e o português a mesma língua? Que entendemos por mesmo: idêntico, da mesma natureza? No terreno da lógica as perguntas tenhem algo de teológico, no do ativismo social apontam para campos de açom diferenciados.

Partilhamos o mesmo?

Atreveria-me a responder em galego retro-reintegrado, que nom é conflituoso: depende.