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«A proclamaçom da República Galega foi um episódio de luita de classes»

Organizaçom da Festa da República Galega (1)

 

No ano 2010 juntam-se as associaçons culturais Foucelhas (Ordes), Luzerna (Cerzeda) e A Revoltaina Cultural da Beira de Bergantinhos (Laracha) para recuperar o dia da proclamaçom da República Galega, lá polo 27 de junho de 1931, para fazer dele umha jornada de festa e reivindicaçom que esperam poder levar a todos os recantos do País. Este fito, oculto para a maioria das galegas polas historiadoras, converte-se num símbolo de resistência do povo e a revalorizaçom deste episódio na nossa história é umha dívida que temos, sobretodo, com este grupo de pessoas, que simplesmente procuravam pouco mais que umha escusa para fazerem algo na comarca.

Como foi a descoberta da proclamaçom da República Galega? Por que decidides comemorá-la?

A descoberta foi totalmente fortuita. Um dia o Carlos Calvo estava rebuscando na Biblioteca Geral e de repente topou-se com o titular da proclamaçom da República. Começou a movê-lo por Foucelhas, e depois já se contatou com o resto de associaçons da comarca. Vimos que o assunto era umha boa oportunidade para juntar-nos e pensamos que havia que recuperar este dia. E daí saiu a ideia da primeira festa, que nom foi em Ordes, senom na velha estaçom de comboios de Gesteda, em Cerzeda, a 27 de junho de 2010.

Surpreendeu-vos o estado de invisibilizaçom a que estava submetido este fato histórico? Que pode levar a que mesmo depois de ter saído à luz as historiadoras apenas o considerem como umha anedota?

O que realmente surpreende é que na Galiza haja festa por quase qualquer cousa e que esta nom estivesse colhida, nom? Talvez nos movimentos populares e políticos o problema fosse de desconhecimento, mas à historiografia oficial sim que lhe interessou que nom se soubesse do tema. Afinal a história responde aos interesses de quem a fai e este nom foi um episódio que casara demasiado com a imagem que queriam dar do nacionalismo. Foi um episódio muito combativo, em que se levou às últimas consequências algo que tanto se está a negar que poda chegar a existir, mas que sim aconteceu. Portanto, o peso que tem isto como referente é algo que nom convém a muita gente, por isso tenta tornar invisível um episódio de luita de classes na Galiza em que o independentismo foi a estratégia escolhida pola classe trabalhadora para se emancipar.

Capa caderno República Galega
Capa de um caderno editado para divulgar a comemoraçom da República Galega

Que vos leva a pensar este dia em Cerzeda e depois em Ordes? Por que nom foi nalgumha cidade?

Primeiro, somos quem somos e nom tinha sentido ir fazê-la a outro lado. Segundo, nom queríamos repetir os esquemas de sempre, pois assim também se lhe dá luz a todo esse movimento de base que há além das cidades e que muitas vezes nem se vê tanto nem tem tanto reconhecimento. Sobretodo o que pretendíamos era juntar as associaçons de por aqui para fazer algo e o lógico era fazê-lo nalgum dos concelhos dos que vínhamos. E a ideia é que se multiplique a celebraçom. Preferimos muitas festas modestas repartidas que umha grande e única festa na estaçom de Ordes. Queremos fazê-lo como umha festa de amigas que sempre vamos celebrar, mas também para as que quigerem vir, porque se a gente que vem quiger voltar, pois melhor.

Depois, a partir da vinculaçom da proclamaçom da República com o comboio também se pretende recuperar espaços como as velhas estaçons de comboio, das quais há um lote pola comarca de Ordes, mas num estado de abandono total. Assim, ao tempo que celebramos este dia também aproveitamos para dinamizarmos estes sítios. Nom tinha sentido nom fazê-lo aqui.

Em relaçom à organizaçom do ato, que tendes pensado para este ano?

Estes anos foi repetido mais ou menos o mesmo esquema, e ainda faltando rosquilheiras, afinal é um pouco umha romaria. Haverá arengas, onde se recolhe a parte mais política, um recital poético e, sobretodo, muita música. Também se tenta sempre que haja atividades para as crianças, porque ao ser umha festa de dia é um público mui presente.

A gente que há detrás, a organizaçom, de onde saídes?

Sobretodo somos gente que sai das associaçons culturais, dos movimentos sociais da zona e mais que nada do companheirismo, de irmos vinculando a gente próxima. Há um lote de gente que crê muito no dia da República e que vem ainda apesar de todos os pesares. Há casos de gente que vem da França, de Matosinhos ou da Catalunha só por esta festa, ou quem, como Mini e Mero ou Xermolos, venhem mantendo um compromisso total desde o primeiro ano. A participaçom na festa está aberta e, de fato, este ano mesmo véu gente diretamente a pedir para tocar.

Como vedes, para finalizar, o panorama social na zona?

No ámbito cultural as associaçons estám um pouco paradas porque, entre a emigraçom e que a gente nova vai para as cidades, estamos em mínimos. Mas a nível social sim que está a haver espaços que estám a dar muita guerra, como um tecido musical que está a funcionar um pouco de trampolim para a juventude começar a pensar ou iniciativas como o Desordes Creativas, a partir da qual também se gera umha dinamizaçom cultural tremenda. É significativo, por exemplo, que na entrada de Ordes haja um Pikachu gigante pintado.

 

Entrevista publicada originalmente no n.º 138 do Novas da Galiza (junho-julho de 2014)

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